Porta Fidei – “É possível cruzar este limiar…”

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O Chamado de São Pedro e Santo André (1603-06),

Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571–1610)

Moto Proprio Porta Fidei – A porta da fé (proclama o Ano da Fé), 2011

Carta Apostólica do Sumo Pontífice Bento XVI

[Excertos]

1. A PORTA DA FÉ (cf. Act 14, 27), que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós. É possível cruzar este limiar, quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela graça que transforma. Atravessar esta porta implica embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira. Este caminho tem início no Baptismo (cf. Rm 6, 4), pelo qual podemos dirigir-nos a Deus com o nome de Pai, e está concluído com a passagem através da morte para a vida eterna, fruto da ressurreição do Senhor Jesus, que, com o dom do Espírito Santo, quis fazer participantes da sua própria glória quantos crêem n’Ele (cf. Jo 17, 22). Professar a fé na Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo – Leia mais deste post

Introdução à Oração (ou: Para não cair em “esquizofrenia mental”, “perturbações psíquicas” e “aberrações morais”)

santa teresa de ávila

Teresa de Ávila (1615),

Peter Paul Rubens (Flamengo, 1577–1640)

Carta aos bispos da Igreja Católica acerca de alguns aspectos da meditação cristã, 1989

Congregação para a Doutrina da Fé (prefeito: Joseph Cardeal Ratzinger)

[Excertos]

… É à Igreja que a oração de Jesus é entregue («assim vós deveis rezar», Mt. 6, 9), e por isso a oração cristã, mesmo quando se realiza em solidão, possui na realidade o seu ser no interior daquela «comunhão dos santos», na qual e com a qual se reza, tanto em forma pública e litúrgica como em forma privada.

… Contra o extravio da pseudo-gnose, os Padres afirmam que a matéria foi criada por Deus e por isso não é má. Além disso, asseveram que a graça, cujo manancial é sempre o Espírito Santo, não é um bem próprio da alma, mas deve ser obtida de Deus como dom. Por isso, a iluminação ou conhecimento superior do Espírito («gnose») não torna supérflua a fé cristã. Por último, para os Santos Padres, o sinal autêntico dum conhecimento superior, fruto da oração, é sempre a caridade cristã.

… Com a atual difusão dos métodos orientais de oração no mundo cristão e nas comunidades eclesiais, encontramo-nos de frente a um acentuado renovar-se da tentativa, não isenta de riscos e erros, de fundir a meditação cristã com a não cristã. As propostas nesta direção são numerosas e mais ou menos radicais: algumas utilizam os métodos orientais somente com a finalidade duma preparação psicofísica em vista duma contemplação realmente cristã; outras vão mais além e procuram produzir, com técnicas diversas, experiências espirituais análogas àquelas de que se fala nos escritos de certos místicos católicos; outras ainda não receiam colocar o absoluto sem imagens e conceitos, próprio da teoria budista, no mesmo plano da majestade de Deus revelada em Cristo, a qual transcende toda a realidade finita. Nesse sentido, servem-se duma espécie de «teologia negativa» que supera qualquer afirmação dotada de conteúdo a propósito de Deus, negando que as coisas do mundo possam ser vistas como um vestígio que reenvia para a sua Infinidade. Por esta razão, propõem que se abandone não somente a meditação das obras salvadoras realizadas na história pelo Deus da Antiga e da Nova Aliança, mas também a ideia mesma de Deus Uno e Trino, que é amor, em favor duma imersão «no abismo indeterminado da divindade».

… Para encontrar a reta «via» da oração, o cristão deverá ter presente o que se disse precedentemente a propósito dos traços salientes da via de Cristo, cujo «alimento é fazer a vontade d’Aquele que O enviou e consumar a sua obra» (Jo 4, 34). Jesus não vive uma Leia mais deste post

Tomás explica: A verdade da razão natural não é contrária à verdade da fé cristã

Rembrandt (1606-1669), O Apóstolo Paulo

1. Embora a supracitada verdade da fé cristã exceda a capacidade da razão humana, os princípios que a razão tem postos em si pela natureza não podem ser contrários àquela verdade.

2. É certo que são veríssimos e que foram colocados na razão pela natureza, de modo que nem se pode cogitar que sejam falsos. Nem tampouco é permitido pensar ser falso o conteúdo da fé, já que com tanta evidência recebeu a confirmação divina. Ora, porque só o falso é contrário ao verdadeiro, o que se manifesta claramente ao se verificarem as definições de ambos, é impossível que a supracitada verdade da fé seja contrária aos princípios conhecidos naturalmente pela razão.

3. Além disso, na ciência do mestre está contido o que ele infunde na alma do discípulo, a não ser que o ensino seja fictício. Mas tal não se pode atribuir a Deus. Ora, o conhecimento dos princípios naturalmente evidentes é infundido em nós por Deus, pois Deus é o autor da natureza. Por conseguinte, esses princípios estão também contidos na sabedoria divina. Assim também, tudo que é contrário a eles contraria a sabedoria divina e não pode estar em Deus. Logo, as verdades recebidas pela revelação divina não podem ser contrárias ao conhecimento natural.

4. Além disso, o nosso intelecto fica impedido de conhecer quando está diante de razões contrárias e, então, não pode proceder para alcançar a verdade. Ora, se razões contrárias fossem em nós infundidas por Deus, o nosso intelecto ficaria impedido de conhecer a Leia mais deste post

Tomás explica: Embora estejam acima da razão, não é leviano crer nas verdades da fé

Gustave Doré (1832-1883), A Mutilação de Maomé
 
Enquanto a olhá-lo eu, fixamente, estaco,
fitando-me, co’ as mãos rasga-se o peito,
e diz: “Agora vê como me achaco;
 
vê como Maomé está desfeito,
vê em frente Ali, e dele ouve os gemidos,
co’ o rosto de um só golpe contrafeito.
 
E os outros todos, que vês reunidos,
semeadores de escândalo e heresia
em vida, aqui por isso são fendidos.

 Divina Comédia, Inferno, Canto XXVIII 

1. Aqueles que aceitam pela fé as verdades que estão fora da experiência humana não crêem levianamente, como aqueles que, segundo são Pedro, seguem fábulas engenhosas (2 Pe 1, 16).

2. Os segredos da sabedoria divina, ela mesma – que conhece tudo perfeitamente – dignou-se revelar aos homens, mostrando-lhes a sua presença, a verdade da sua doutrina, e inspirando-os, com testemunhos condizentes. Ademais, para confirmar as verdades que excedem o conhecimento natural, realizou ações visíveis que superam a capacidade de toda a natureza, como sejam a cura de doenças, ressurreição dos mortos e maravilhosas mudanças nos corpos celestes. Mais maravilhoso ainda é, inspirando as mentes humanas, ter feito que homens ignorantes e rudes, enriquecidos pelos dons do Espírito Santo, adquirissem instantaneamente tão elevada sabedoria e eloquência

Depois de termos considerado tais fatos, acrescente-se agora, para confirmação da eficácia dos mesmos, que uma enorme multidão de homens, não só os rudes como também os sábios, a correu para a fé cristã. Assim o fizeram, não premidos pela violência das armas, nem pela promessa de prazer, mas também – o que é maravilhoso – sofrendo a perseguição dos tiranos. Além disso, na fé cristã, são expostas as virtudes que excedem todo o intelecto humano, os prazeres são reprimidos e se ensina o desprezo das coisas do mundo. Ora, terem os espíritos humanos concordado com tudo isto é ainda maior milagre e claro efeito da inspiração divina.

Essas coisas não aconteceram de improviso ou por acaso, mas por disposição divina, porque focou evidenciado que elas se realizaram mais tarde, porquanto Deus as havia predito pelos Leia mais deste post

Tomás explica: A verdade divina acessível à razão é convenientemente proposta à fé dos homens

Caravaggio, A Inspiração de São Mateus (1602), Igreja San Luigi dei Francesi, Roma

1. Como se viu, há duas ordens de verdades referentes às realidades divinas inteligíveis: uma, a das verdades possíveis de serem investigadas pela razão humana; outra, a daquelas que estão acima de toda capacidade desta razão. Ambas, no entanto, são convenientemente propostas por Deus aos homens para serem acreditadas.

2. Neste capítulo tratar-se-á, em primeiro lugar, das verdades possíveis de serem investigadas pela razão. Assim, não será tido como vão que seja proposto para fé, por inspiração sobrenatural, aquilo que a razão por si mesma é capaz de atingir.

Ora, se essas verdades fossem abandonadas à investigação só da razão, três inconvenientes surgiriam.

3. Um primeiro, porque, se assim acontecesse, poucos homens chegariam ao conhecimento de Deus. Muitos estariam impedidos de descobrir a verdade, que é fruto de assídua investigação, por três motivos.

Alguns, devido à própria constituição natural defeituosa que os dispõe para o conhecimento; estes tais por nenhum esforço poderiam alcançar o grau supremo do conhecimento humano, que consiste no conhecimento de Deus.

Outros, devido aos cuidados necessários para o sustento da família. Convém, sem dúvida, que dentre os homens alguns se entreguem ao cuidado das coisas temporais. Estes, porém, não podem dispender o tempo necessário para o lazer exigido pela investigação contemplativa para alcançar o máximo desta investigação, que consiste justamente no conhecimento de Deus.

Outros, por fim, são impedidos pela preguiça. Ora, para o conhecimento das verdades divinas investigáveis pela razão há necessidade de Leia mais deste post

Tomás responde: O cisma é um pecado especial?

Iluminura do séc. XIV onde Dante vê, horrorizado, os semeadores de escândalo e cismáticos percorrendo a vala onde, a cada volta, são cortados ao meio por um diabo

Parece que o cisma não é um pecado especial:

1. Com efeito, diz o papa Pelágio, o cismo “soa a ruptura”. Ora, todo pecado causa uma ruptura. Está escrito em Isaías (59,2): “Vossos pecados vos dividiram de vosso Deus”. Logo, o cisma não é um pecado especial.

2. Além disso, são considerados cismáticos aqueles que não obedecem à Igreja. Ora, em todos os seus pecados o homem desobedece aos preceitos da Igreja, pois, segundo Ambrósio, o pecado é “uma desobediência aos mandamentos celestes”. Logo, todo pecado é um cisma.

3. Ademais, a heresia nos separa da unidade da fé. Portanto, se o cisma implica uma divisão, parece não se diferenciar do pecado de infidelidade como um pecado especial.

EM SENTIDO CONTRÁRIO, Agostinho distingue entre cisma e heresia, quando diz: “O cismático tem as mesmas crenças e os mesmos ritos que os outros; só se compraz na separação da congregação. O herege, porém, tem opiniões que o afastam do que a Igreja Católica crê”. Portanto, o cisma é um pecado especial.

Segundo Isidoro, chamou-se com o nome de cisma “a cisão dos ânimos”. Ora, a cisão opõe-se à unidade. Por isso se diz que o pecado de cisma se opõe diretamente e por si à unidade. Com efeito, assim como na natureza, o que é acidental não constitui a espécie, assim também na moral. O que é intencional é essencial, enquanto o que está fora da intenção existe como acidental. Por isso o pecado de cisma é propriamente um pecado especial, pelo fato de alguém tender a se separar da unidade realizada pela caridade. A caridade une não somente uma pessoa a outra pelo laço do amor espiritual, mas ainda toda a Igreja na unidade do Espírito. Chamam-se, portanto, cismáticos propriamente ditos aqueles que por si mesmos e intencionalmente se separam da unidade da Igreja, que é a unidade principal. A união articular entre os indivíduos é, pois, ordenada à unidade da Igreja, da mesma forma que a organização dos diversos membros no corpo natural é ordenada à unidade do corpo inteiro.

Ora, pode-se considerar a unidade da igreja de duas maneiras: na conexão ou na comunhão recíproca dos membros da Igreja entre si; e, além disso, na ordenação de todos os membros da Igreja a uma única cabeça. Segundo a Carta aos Colossenses (2, 18-19): “Inchado pelo sentido de sua carne e não se mantendo unido à cabeça, da qual todo o corpo, por suas articulações e ligamentos, recebe alimento e coesão para realizar seu crescimento em Deus”. Ora, esta Cabeça é o próprio Cristo, do qual o soberano pontífice faz Leia mais deste post

Tomás responde: O herege, que não crê em um artigo da fé, pode ter fé informe nos outros artigos?

Gustaf Vasakyrkan, “Os santos triunfam sobre a heresia“, Estocolmo

Parece que o herege, que não crê em um artigo da fé, pode ter fé informe nos outros artigos:

1. Com efeito, o intelecto natural do herege não é mais potente que o do católico. Ora, o intelecto do católico para crer qualquer artigo da fé deve ser ajudado pelo dom da fé. Logo, parece que nem os hereges podem crer alguns artigos da fé sem o dom da fé informe.

2. Além disso, como a fé contém muitos artigos, assim também, uma mesma ciência, por exemplo, a geometria, contém muitas conclusões. Ora, um homem pode ter ciência de certas conclusões geométricas, ignorando outras. Logo, o homem pode ter fé em alguns artigos da fé, não crendo, porém, em outros.

3. Ademais, assim como o homem obedece a Deus para crer artigos de fé, assim também, para observar os mandamentos da lei. Ora, o homem pode ser obediente acerca de alguns mandamentos, mas não acerca de outros. Logo, também pode ter fé em alguns artigos e não em outros.

EM SENTIDO CONTRÁRIO, como o pecado mortal contraria a caridade, assim também descrer um artigo contraria a fé. Mas, a caridade não permanece no homem depois do pecado mortal. Logo, nem a fé, em quem não crê num artigo.

O herege que descrê de um artigo de fé não tem o hábito da fé, nem da fé formada nem da fé informe. E a razão disso é que a espécie de qualquer hábito depende da razão formal do objeto. Se esta desaparece, desaparece também a espécie do hábito. O objeto formal da fé é a verdade primeira manifestada nas Sagradas Escrituras e na doutrina da Igreja. Por isso, aquele que não adere como a uma regra infalível e divina à doutrina da Igreja, que procede da verdade primeira revelada nas Sagradas Escrituras, não tem o hábito da fé, mas aceita as verdades da fé de modo diferente que pela fé. Como alguém que tivesse em sua mente alguma conclusão sem conhecer o meio que serve para demonstrá-la; é evidente que não tem dela ciência, mas somente uma opinião.

Ora, é claro que quem adere à doutrina da Igreja como à regra infalível, dá seu assentimento a tudo o que a Igreja ensina. Ao contrário, se do que ela ensina, aceitasse como lhe apraz, umas coisas e não outras, já não aderiria à doutrina da Igreja como regra infalível, mas à própria vontade. E assim é claro que o herético que descrê pertinazmente um artigo não está disposto a seguir em Leia mais deste post

Fragmentos: Fé, Esperança e Caridade

O amor não poderia ser reto se não tivesse estabelecido de início o justo fim da esperança, e isso não é possível se falta o conhecimento da verdade. Deves ter de início a fé para conhecer a verdade, em seguida a esperança para colocar teu desejo no verdadeiro fim, enfim a caridade pela qual teu amor será totalmente retificado.

Compendium I 1

A fé mostra o fim, a esperança faz tender para ele, a caridade realiza a união com ele.

Super I Tim. 1,5, n. 13

 

A fé é certo aperitivo (praelibatio quaedam) desse conhecimento que será nossa felicidade na vida eterna. Por isso o Apóstolo (Hb 11, 1) diz que ela é “a substância das realidades que esperamos”, como se ela fizesse subsistir em nós de uma maneira começada as realidades que esperamos, isto é, a bem-aventurança futura. O Senhor ensinou que esse conhecimento beatificante consiste em duas coisas: a divindade da Trindade e a humanidade de Cristo, quando ele se dirigia ao Pai dizendo (Jo 17, 3): “A vida eterna é que eles te conheçam, tu, o único verdadeiro Deus, e aquele que enviaste, Jesus Cristo”. É a respeito dessas duas realidades, a divindade da Trindade e a humanidade de Cristo, que se refere todo conhecimento da fé. Isso nada tem de admirável, porque a humanidade de Cristo é o Leia mais deste post

Tomás responde: Cabe ao Sumo Pontífice estabelecer o símbolo da fé?

Parece que não cabe ao Sumo Pontífice estabelecer o símbolo da fé:

1. Com efeito, uma nova apresentação do Símbolo é necessária para explicação dos artigos de fé, como já se disse (art. precedente). Ora, no Antigo Testamento, os artigos de fé foram cada vez mais explicados, no correr dos tempos, e a verdade da fé mais se manifestava quanto maior a proximidade de Cristo. Tal motivo não mais existe na nova Lei: os artigos de fé não devem, pois, receber novas explicações. Logo, parece não competir à autoridade do Sumo Pontífice uma nova apresentação do Símbolo.

2. Além disso, o que foi interdito, sob pena de anátema, não depende do poder de homem algum. Ora, a autoridade da Igreja Católica interditou, sob pena de anátema, a publicação de novo Símbolo. Dizem as atas do primeiro concílio de Éfeso que este Concílio, “Uma vez lido o Símbolo de Nicéia, decretou que não seria permitido a ninguém professar, subscrever ou compor outra fé, além da definida pelos Santos Padres, reunidos em Nicéia com o Espírito Santo”. Segue-se a pena de anátema. A mesma coisa é repetida nas atas do Concílio de Calcedônia. Logo, parece que uma nova apresentação do Símbolo não cabe à autoridade do Sumo Pontífice.

3. Ademais, Atanásio não foi Sumo Pontífice, mas patriarca de Alexandria e, contudo, constituiu um Símbolo que é cantado na Igreja. Logo, a publicação de um Símbolo não parece pertencer ao Sumo Pontífice mais do que a outros.

EM SENTIDO CONTRÁRIO, a publicação do símbolo foi feita em concílio geral. Mas, um concílio só pode reunir-se sob a autoridade do Sumo Pontífice como está estabelecido nos Decretos. Logo, a publicação do Símbolo cabe à autoridade do Sumo Pontífice.

 

Como já explicamos (artigo precedente), uma publicação nova do Símbolo é necessária para evitar erros que surgem. Tem autoridade para fazê-lo quem pode determinar em última instância o que é de fé, para que todos possam a ela aderir de maneira inabalável. Isto, porém, é da alçada do Sumo Pontífice a quem são deferidas as maiores e mais difíceis questões da Igreja, como se diz nos Decretos de Graciano. Por isso, o Senhor, no Evangelho de Lucas, disse a Pedro a quem constituiu Sumo Pontífice: “Eu rezei por ti, para que tua fé não desfaleça; e tu, depois de convertido, confirma os teus irmãos” (22, 32). E a razão disso é que toda a Igreja deve ter a mesma fé, seguindo a recomendação da primeira Carta aos Coríntios: “Dizei todos as mesmas coisas e não haja divisões entre vós” (1, 10). Ora, isso não poderia ser observado, se uma

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A resposta cristã ao racionalismo

Beato John Henry Newman (1801-1890)

Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap.

3ª Pregação do Advento

“ESTAI SEMPRE PRONTOS A DAR A RAZÃO DA VOSSA ESPERANÇA.”

(1 Pe 3,15)

A resposta cristã ao racionalismo


1. A razão usurpadora

O terceiro obstáculo que faz parte da cultura moderna, “refratária” ao Evangelho, é o racionalismo. Sobre isso falaremos nesta última meditação do Advento.

O cardeal e, agora, Beato John Henry Newman, deixou-nos um discurso memorável, proferido em 11 de dezembro de 1831, na Universidade de Oxford, intitulado The Usurpation of Raison, a usurpação ou a prevaricação da razão. Neste título já está a definição do que entendemos como racionalismo1. Numa nota explicativa a este discurso, escrita no prefácio à sua terceira edição, de 1871, o autor explica o que quer dizer com esse termo. Por usurpação da razão – diz – se entende “certo abuso generalizado dessa faculdade quando se fala de religião sem um conhecimento íntimo ou sem o respeito devido aos princípios fundamentais desta. Essa ‘razão’ é chamada ‘sabedoria do mundo’ nas Escrituras é a compreensão de religião dos que têm a mentalidade secularista e se baseiam em máximas do mundo, que lhes são intrinsecamente alheias” 2.

Em outro de seus sermões na universidade, intitulado “Fé e Razão comparadas”, Newman ilustra por que a razão não pode ser o juiz supremo em matéria de religião e de fé, com a analogia da consciência:

“Ninguém – escreve – dirá que a consciência se opõe à razão, ou que seus preceitos não podem ser apresentados em forma de argumento; no entanto, quem, a partir disso, argumentará que a consciência não é um princípio original, mas que, para atuar, precisa atender o resultado de um processo lógico-racional? A razão analisa os fundamentos e os motivos da ação, sem ser ela mesma um destes Leia mais deste post

Reinaldo Azevedo e Santo Tomás

Fra Bartolomeo (1472-1517), Tomás de Aquino

SANTO TOMÁS

Publico mais um texto inédito para os leitores do blog, que integra O País dos Petralhas. Parece-me que tem tudo a ver com estes dias. Avaliem.

*
A editora Sétimo Selo acaba de prestar um segundo bom serviço ao pensamento com a publicação de “Sobre o mal”, de Santo Tomás de Aquino, em edição bilíngüe (português e latim), com tradução de Carlos Nougué. É o primeiro de prometidos quatro tomos. A editora já publicou em agosto “Da natureza do bem”, de Santo Agostinho. É um conforto saber que a Igreja nem sempre foi pautada pela teologia zoológica de Leonardo Boff (”A águia e a galinha”) ou pelo cristianismo marxista de Frei Betto. Quem, podendo liquidar seus algozes, morre na cruz, ou o faz para nos salvar (a todos, não só aos pobres) ou é um idiota.Tomás de Aquino (1225-1274), o mais importante pensador da Igreja, foi quem abriu a porta do enigma: há matérias que estão sujeitas à investigação da ciência e do pensamento, e há aquelas que estão no domínio da fé. Basta que não se ponham umas em lugar de outras: os cristãos fundamentalistas americanos não tentarão ministrar “Desenho inteligente” na aula de biologia, e os cientistas declinam de provar o erro da Bíblia à luz de “A origem das espécies”. O que não impede um médico de rezar uma Ave-Maria, em pensamento, enquanto está com as nossas vísceras na mão. Ou uma universidade católica de estudar o genoma do macaco, notre semblable, notre frère! , mas, ainda assim, impedido de ter fé — se é que vocês me entendem. E não tem porque não pode, não porque não quer.

As referências do pensamento contemporâneo foram se acanalhando, e estamos todos nos acostumando com a burrice militante. Com o PT, ela chegou ao poder e tentou ganhar o Leia mais deste post

A Lei Moral 4: Há em nós uma lei natural?

Faith and Reason united, with St Thomas Aquinas teaching in the background and the inscription: “divinarum veritatum splendor, animo exceptus, ipsam juvat intelligentiam“, from Leo XIII’s encyclical Aeterni Patris (13). Painting by German painter Ludwig Seitz (1844–1908), Galleria dei Candelabri, Vatican (clique para ampliar).
Leia também:
A Lei Moral, ou “Como deixar um ateu em maus lençóis”
A Lei Moral 2: Lewis e a lei natural
A Lei Moral 3: O Esplendor da Verdade

Parece que não há em nós uma lei natural:

1. Com efeito, o homem é suficientemente governado pela lei eterna: diz Agostinho que “a lei eterna é aquela pela qual é justo que todas as coisas sejam ordenadíssimas”. Ora, a natureza não se excede nas coisas supérfluas, como não falta nas necessárias. Logo, não há uma lei natural para o homem.

2. Além disso, pela lei ordena-se o homem em seus atos para o fim, como acima se mostrou. Ora, a ordenação dos atos humanos para o fim não é pela natureza, como acontece nas criaturas irracionais, que só pelo apetite natural agem em razão do fim; mas age o homem Leia mais deste post

Tomás responde: Os acidentes do pão e do vinho permanecem no sacramento da Eucaristia?

Fra Angelico, Comunhão dos Apóstolos, Museu São Marcos, Florença (clique para ampliar)

Parece que neste sacramento não permanecem os acidentes do pão e do vinho:

1. Com efeito, uma vez que se retira o ser anterior, se remove também o que o segue. Ora, a substância é por natureza anterior ao acidente, como demonstra Aristóteles.

Logo, já que após a consagração não permanece a substância do pão neste sacramento, parece que os acidentes não podem permanecer.

2. Além disso, no sacramento da verdade não pode haver nenhum engano. Ora, pelos acidentes julgamos a substância. Portanto, parece que o juízo humano é enganado Leia mais deste post