Tomás responde: O demônio é cabeça dos maus?
7 agosto, 2014 1 Comentário
Mihály Zichy (1827-1906), O Triunfo do Gênio da Destruição (1878)
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Parece que o demônio não é cabeça dos maus:
1. Com efeito, pertence à natureza da cabeça causar o sentido e o movimento nos outros membros. Assim diz certa Glosa comentando a Carta aos Efésios: “Ele o deu como cabeça” etc… Ora, o demônio não tem o poder de causar a malícia do pecado, que procede da vontade do pecador. Logo, o demônio não pode ser dito cabeça dos maus.
2. Além disso, qualquer pecado torna o homem mau. Ora, nem todos os pecados provêm do demônio, como está claro no pecado dos próprios demônios que não pecaram em virtude da persuasão de outros. Do mesmo modo, nem todo pecado dos homens procede do demônio. Assim consta do livro Dos Dogmas Eclesiásticos: “Nem todos os maus pensamentos são despertados em nós pela instigação do demônio; algumas vezes nascem do movimento de nosso livre-arbítrio”. Logo, o demônio não é cabeça de todos os maus.
3. Ademais, a um só corpo é destinada uma só cabeça. Ora, a multidão inteira dos maus não parece possuir algo segundo o qual esteja unida. Com efeito, “acontece ao mal ser contrário do mal”, na medida em que procede “de defeitos diversos” como diz Dionísio. Logo, o demônio não pode ser dito cabeça de todos os maus.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, comentando o livro de Jó: “Desapareça sua lembrança da terra” (18, 17), diz a Glosa: “isso se diz de qualquer pecador, para que volte à sua cabeça, isto é, ao demônio”.
Como acima foi dito (art. prec.), a cabeça não só causa interiormente nos membros, mas também os governa exteriormente dirigindo seus atos para algum fim. Desta sorte pode-se denominar a alguém cabeça da multidão: ou segundo os dois aspectos, pelo influxo interior e pelo governo exterior; assim, Cristo é a cabeça da Igreja, como antes foi explicado. Ou somente segundo o governo exterior, e assim qualquer príncipe ou prelado é cabeça da multidão que lhe é sujeita. Segundo esse modo, o demônio pode ser dito cabeça de todos os maus, pois, como está no livro de Jó: “Ele é rei sobre todos os filhos da soberba” (41, 25).
Cabe ao que governa conduzir os governados a seu fim. O fim do demônio é fazer a criatura racional voltar as costas para Deus. Por isso, desde o princípio, tentou remover o homem da obediência ao mandamento divino. Voltar as costas para Deus tem razão de fim enquanto é desejado sob a aparência de liberdade, segundo o profeta Jeremias: ”Há muito quebraste te jugo, rompeste teus laços, dizendo: ‘Não servirei’” (2, 20). Portanto, enquanto pelo pecado alguns são levados a esse fim, incidem sob o regime e governo do demônio. E por isso ele é chamado sua cabeça.
Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se dizer que:
1. Embora o demônio não possa influir interiormente na inteligência, pode, no entanto, induzir ao mal por sugestão. Leia mais deste post
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