Tomás responde: Deve-se louvar a Deus oralmente?
31 julho, 2014 1 Comentário
Diego Velázquez (1599-1660), Tentação de Santo Tomás de Aquino (1632)
♣
Parece que Deus não deve ser louvado oralmente:
1. Com efeito, diz o Filósofo: “Não é o louvor que merecem os melhores, mas coisas maiores e melhores”. Ora, Deus está sobre tudo o que é melhor. Logo, a Deus não se deve o louvor, mas algo maior. Por isso, o livro do Eclesiástico diz: “Deus está acima de todo louvor” (43,33).
2. Além disso, sendo ato de religião, o louvor pertence ao culto divino. Ora, presta-se mais culto a Deus pelo espírito do que pelos lábios; por isso, o Senhor aplica o texto do livro de Isaías contra alguns: “Este povo me louva pelos lábios, mas o coração está longe de mim” (Mt 15, 7-8). Logo, o louvor de Deus deve ser mais do coração que dos lábios.
3. Ademais, os homens louvam-se oralmente para se estimularem a ser melhores: o louvor aos maus leva-os a serem mais soberbos; o louvor aos bons provoca-os a serem melhores. Lê-se, no livro dos Provérbios: “Como a prata é provada no crisol, assim os homens, pelos lábios daqueles que os louvam” (27, 21). Ora, Deus não é estimulado pelas palavras dos homens a coisas melhores, por se imutável e por ser o Sumo Bem, nada lhe poderá ser acrescido. Logo, Deus não deve ser louvado pelos lábios.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, diz o Salmista: “Minha boca louvará com lábios jubilosos” (62, 6).
Usamos das palavras para Deus e para os homens por razões diferentes. Delas usamos para os homens a fim de transmitir-lhes os nossos pensamentos, pois não podem conhecê-los. Assim, para os homens usamos dos louvores das nossas bocas, para que quem é louvado saiba, e os outros também, a boa opinião que dele temos, para que aquele que é louvado seja estimulado a melhorar, e também os que venham a conhecer esses louvores sejam levados a terem dele boa opinião, a reverenciá-lo e a imitá-lo.
Para Deus, porém, que penetra nos corações, usamos das palavras, não para manifestar-Lhe os nossos pensamentos, mas para que nós mesmos e aqueles que nos ouvem, sejamos induzidos a reverenciar a Deus. Por isso, o louvor oral é necessário, não por causa de Deus, mas por causa dos que louvam, cuja afeição para Deus aumenta pelo louvor. A respeito, diz o Salmista: “O sacrifício de louvor me dá glória e aí está o caminho pelo qual mostrarei a salvação de Deus” (49, 23). Na medida em que pelo louvor divino o coração do homem se eleva a Deus, afasta-se de tudo o que lhe é contrário, segundo o livro de Isaías: “Com o meu louvor pôr-te-ei um freio para que não pereças” (48, 9). O louvor oral induz também os outros a terem mais afeição a Deus. Diz a respeito o Salmista: “Sempre tenho o teu louvor nos meus lábios” (33,2) e “Ouçam os mansos, se alegrem, e comigo magnifiquem a Deus” (vv. 3-4).
Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se dizer que:
1. De dois modos podemos falar de Deus: de um modo, quanto à sua essência, que é incompreensível, inefável e, por isso, está acima de todo louvor. Segundo esta consideração, a Deus se deve reverência e o culto de latria. Comentando um salmo, escreve Jerônimo quanto à reverência: “Diante de ti, ó meu Deus, cale-se todo louvor”, e, quanto ao culto de latria: “Que sejam cumpridas as promessas a ti feitas”. De outro modo, quanto aos seus efeitos, que se ordenem ao nosso bem. Sob esse aspecto, deve Deus ser louvado. Donde dizer Isaías: “Lembrarei as misericórdias do Senhor, e o louvarei por tudo que ele nos fez” (63, 7). E Dionísio: “Considerai que todo hino santo dos Teólogos (isto é, o louvor divino) aplica a Deus nomes distintos ao manifestar e louvar os benefícios da tearquia, isto é, da divindade”. Leia mais deste post
Comentários