Torneio de combate medieval

Combate Medieval, anúncio, agosto 2015, Argentina

Foi-se o tempo em que a máxima desqualificação de algo consistia em dizer que era “medieval”. Essa visualização mudou 180º.

Por isso, escritores e ativistas que ficaram esclerosados no antigo padrão protagonizam engraçados episódios.

Foi o que aconteceu com a jovem jornalista argentina Diana Fernández Irusta, de “La Nación”, galardoada com o Prêmio Internacional de Jornalismo Rei da Espanha.

Certo dia a jornalista, que estava tratando do joelho e andava com dificuldade, foi gentilmente auxiliada por uma nova vizinha do prédio em que mora. É Cecília, uma jovem professora de música e cantora, mãe de três filhos, que lhe deu apoio durante o tratamento. Diana ficou com uma alta imagem de Cecília.

Combate Medieval2Um dia o filho pequeno de Diana, que é fascinado por castelos e heróis, tanto insistiu em ir ver uma das feiras medievais que estão acontecendo em Buenos Aires, que a mãe decidiu levá-lo, imaginando encontrar uma encenação para crianças.

Sua surpresa foi total: nada de festinha, mas um evento que se destacava pelo nível cultural.

E enquanto ela girava pelas ruas da cidade medieval erigida para a ocasião, foi dar com Cecília, sua amável vizinha, ataviada com um belo vestido palaciano e ensinando às moças passos de uma dança medieval.

Cecilia lhe contou todos os livros que tinha lido. Ela sabia bem o que estava fazendo. Diana custou a acreditar, mas ainda não tinha se dado conta de tudo.

Os alto-falantes anunciaram o momento da batalha. Diana estava convencida de que assistiria a uma coreografia com espadas e escudos de plástico e levou seu filho. Leia mais deste post

A Igreja Católica na Idade Média e a ciência

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O site “Glória da Idade Média”  publicou um interessante artigo com diversos links para artigos relacionados à contribuição da Igreja para a ciência e tecnologia. Clique no link abaixo para conferir.

Ciência, invenções, Universidades, hospitais, educação, descobertas, culinária, nomes: a lista interminável do progresso medieval

 

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Tomás: esboço de um retrato

Fra Bartolommeo (1472-1517), Santo Tomás de Aquino

Se for possível deixar por instantes o terreno sólido de textos e datas, gostaríamos agora de tentar recolher dos que o conheceram algumas indicações sobre o homem e o santo que foi Tomás. A tarefa não é fácil. Já há muito sabemos dos limites do gênero hagiográfico, e com razão apontou-se que os modelos do tipo não estavam ausentes da biografia composta por Tocco. O mesmo vale para o processo de canonização, no qual, como acabamos de dizer, a proporção de testemunhos “úteis” é pequena em relação aos dados estereotipados. Em muitos casos, só podemos chegar à idéia que os contemporâneos faziam de Tomás e à imagem que dele haviam conservado mediante o modo como concebiam a santidade, mas seria um erro, acreditamos, pecar por excesso de ceticismo e recusar-nos sistematicamente a examinar tudo o que aprendemos por essa via. Certos detalhes pessoais que não se harmonizam em absoluto com a idéia que os modernos fazem do Aquinate talvez tenham alguma probabilidade de ser verdadeiros.

Em primeiro lugar, seu retrato físico. Os testemunhos são convergentes. Ele era grande, gordo e com uma fronte calva: “fuit magne stature et pinguis et calvus supra frontem”, diz um cisterciense de Fossanova. Tomás deve por certo sua alta estatura à ascendência normanda; esta é também observada, assim como o excesso de peso, por um segundo observador: fuit magne stature et calvus et quod fuit etiam grossus et brunus. Remigio de Florença, que foi seu aluno em Paris, não hesita em acentuar que Tomás era bastante gordo: pinguissimus.

Tocco, que sugere pudicamente uma certa corpulência, exprime-se de maneira mais extensa: “Quanto à disposição natural de seu corpo e de seu espírito, diz-se que ele era grande de corpo (magnus in corpore), estatura alta e ereta a corresponder à retidão de sua alma. Era loiro como o trigo (coloris triticei), indício de seu temperamento bem equilibrado. Tinha uma grande cabeça, como exigem os órgãos perfeitos que requerem as faculdades sensíveis a serviço da razão. O cabelo, um pouco ralo (aliquantulum calvus).

Esse nobre retrato concorda, fundamentalmente, com as declarações mais sumárias de ambos os monges, mas além disso pretende mostrar que esses traços físicos correspondem a certa Leia mais deste post

Chestertoninas: O homem moderno e a Idade Média

“Imagine o jornalista ou homem de letras comum, jovem e bem educado, recém-saído de uma escola pública ou faculdade, parado diante de uma coleção ainda maior de livros ainda maiores das bibliotecas da Idade Média – digamos, todos os volumes de São Tomás de Aquino. Digo-lhe que, de nove casos em dez, aquele jovem bem-educado não tem a menor noção do que iria encontrar naqueles volumes encadernados em couro. Pensa que irá encontrar discussões sobre as capacidades dos anjos de se equilibrarem sobre pontas de agulhas, e talvez o fizesse. Mas afirmo que ele não pensa – nem de longe – que irá encontrar um professor universitário a discutir quase todas as coisas que Herbert Spencer discutiu: política, sociologia, formas de governo, monarquia, liberdade, anarquia, propriedade privada, comunismo, e todas as variadas idéias que, no nosso tempo, se dedicam a brigar em nome do futuro “socialismo”.

Igualmente, não sei muito sobre Maomé ou o maometanismo. Não levo o Alcorão para ler na cama toda noite. Mas, se em determinada noite o fizesse, há pelo menos um sentido em que sei o que não encontrarei nele. Suponho que a obra não transbordará de fortes encorajamentos ao culto dos ídolos; que não se cantarão ali em alta voz os louvores do politeísmo; que o caráter de Maomé não será submetido a nada que se parece com o ódio e o ridículo; e que a grande doutrina moderna da irrelevância da religião não será enfatizada sem necessidade.
Mas troque novamente a imagem, e imagine o homem moderno (o pobre homem moderno) que tivesse levado um volume de teologia medieval para a cama. Ele esperaria encontrar ali um pessimismo que não há, um fatalismo que não há, um amor à barbárie que não há, um desprezo pela razão que não há.
Aliás, seria na verdade muito bom que fizesse a experiência. Far-lhe-á bem de uma forma ou de outra: ou o fará dormir – ou o fará acordar.”
G.K. Chesterton, Illustrated London News, 15.11.1913
Para ler o artigo completo, clique aqui: Leia mais deste post

Chestertoninas: Sobre credos e dogmas

Em verdade, isto ilustra vivamente a estupidez provinciana dos que fazem objeção ao que eles chamam “credos e dogmas”. Foi precisamente o credo e o dogma o que salvou a saúde moral do mundo. Essas pessoas propõem, em geral, uma religião alternativa de intuição e de sentimento. Se na era realmente das trevas tivesse havido uma religião de sentimento, teria sido de sentimento negro e suicida. Foi o credo rígido que resistiu ao ímpeto desse sentimento suicida. Os críticos do ascetismo têm talvez razão quando supõem que muitos eremitas ocidentais se sentiam muito semelhantes a faquires orientais. Mas o que não podiam era pensar como faquires orientais, por serem católicos ortodoxos. E só o dogma manteve o seu pensamento em contato com um pensamento mais saudável e humano. Não podiam negar que um Deus bom criara um mundo normal e natural; e não podiam dizer que o demônio fizera o mundo, porque não eram maniqueus.

Milhares de entusiastas do celibato, na era da grande corrida para o deserto ou para o claustro, poderiam ter chamado pecado ao casamento, se considerassem somente os seus ideais individuais, à moda moderna, e os seus sentimentos imediatos a respeito do casamento. Felizmente, tinham de aceitar a autoridade da Igreja, que definira não ser pecado o casamento. Uma religião moderna e emotiva poderia, em um momento, ter transformado o Catolicismo no maniqueísmo. Mas, ainda que o sentimento religioso tornasse os homens loucos, lá estava a teologia para os curar.

Neste sentido é que surge Santo Tomás como o grande teólogo ortodoxo, que recordou aos homens a doutrina da criação, quando muitos deles se inclinavam ainda para o pessimismo e a destruição. É ridículo que os críticos do medievalismo citem uma centena de frases medievais, que parecem tocadas de simples pessimismo, sem no entanto compreender o fato central: que os homens medievais não se importavam com ser antigos ou modernos e não aceitavam a autoridade de uma disposição por ela ser melancólica, mas importavam-se muitíssimo com a ortodoxia, que não é uma disposição ou inclinação.

G. K. Chesterton, Santo Tomás de Aquino

Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, Igreja, ortodoxia

Chestertoninas: O monge e o poste

[Essa vai como presente ao querido amigo José Carlos, um nada gracioso ogro-dwarf das terras d’além mar que, apesar da idade já avançada, ainda não teve a felicidade de ser apresentado ao Sr. Chesterton]

“Suponhamos que surja em uma rua grande comoção a respeito de alguma coisa, digamos, um poste de iluminação a gás, que muitas pessoas influentes desejam derrubar. Um monge de batina cinza, que é o espírito da Idade Média, começa a fazer algumas considerações sobre o assunto, dizendo à maneira árida da Escolástica: “Consideremos primeiro, meus irmãos, o valor da luz. Se a luz for em si mesma boa…”. Nesta altura, o monge é, compreensivelmente, derrubado. Todo mundo corre para o poste e o põe abaixo em dez minutos, cumprimentando-se mutuamente pela praticidade nada medieval. Mas, com o passar do tempo, as coisas não funcionam tão facilmente. Alguns derrubaram o poste porque queriam a luz elétrica; outros, porque queriam o ferro do poste; alguns mais, porque queriam a escuridão, pois seus objetivos eram maus. Alguns se interessavam pouco pelo poste, outros, muito; alguns agiram porque queriam destruir os equipamentos municipais. Outros porque queriam destruir alguma coisa. Então, aos poucos e inevitavelmente, hoje, amanhã, ou depois de amanhã, voltam a perceber que o monge, afinal, estava certo, e que tudo depende de qual é a filosofia da luz. Mas o que poderíamos ter discutido sob a lâmpada a gás, agora devemos discutir no escuro.”

G. K. Chesterton, Hereges, Ed. Ecclesiae

Tomás de Aquino, Santo Tomás, filosofia, Igreja

Tomás e a política: qual a melhor forma de governo?

Andrea di Bonaiuto, Igreja Santa Maria Novella, Firenze

Leia também:
Tomás responde: Qual é a melhor forma de governo?
Tomás responde: Qualquer um pode fazer leis?
Tomás responde: É efeito da lei tornar os homens bons?
Tomás responde: Os atos da lei (ordenar, proibir, permitir e punir) são convenientemente enumerados?

“Dois pontos devem ser considerados acerca da boa organização do governo de uma cidade ou de uma nação. Primeiramente, que todos tenham alguma participação no governo, porque, segundo o livro II da Política, existe aí uma garantia de paz civil, e todos amam e guardam uma tal ordenação.”

“Por isso, a melhor organização para o governo de uma cidade oude um reino é aquela em que à cabeça é posto, em razão de sua virtude, um chefe único tendo autoridade sobre todos. Assim sob sua autoridade se encontra um determinado número de chefes subalternos, qualificados segundo a virtude. E assim o poder definido pertence à multidão, porque todos aí têm, ou a possibilidade de serem eleitos, ou a de serem eleitores. Este é o regime perfeito, bem combinado (politia bene commixta) de monarquia, pela preeminência de um só, de aristocracia, pela multiplicidade de chefes virtuosamente qualificados, de democracia, enfim, ou de poder popular, pelo fato de que cidadãos simples podem ser escolhidos como chefes, e que a escolha dos chefes pertence ao povo.”

A afirmação da autonomia do político em relação ao religioso nada diz ainda da questão sensivelmente diferente da melhor forma de governo que convém a uma sociedade adotar. A bem dizer, Tomás jamais se estendeu muito sobre esse assunto, mas vê-se de imediato que as duas questões não existem sem relações. Não somente porque se trata de uma parte e de outra do bem comum da multidão, mas também porque os dados de base que comandam as opções nos dois casos são finalmente os mesmos. Tanto a exigência do respeito mútuo das diversas competências da Igreja e do Estado, quanto o apelo a uma ética de responsabilidade pessoal no governo da cidade terrestre estão inscritos na Leia mais deste post

Bom humor e brincadeiras em Santo Tomás

George Henry Harlow, Retrato de Duas Crianças

Leia também: Tomás responde: Pode haver alguma virtude na prática de jogos e brincadeiras?

Por Luiz Jean Lauand

( O Tratado sobre o brincar de Tomás de Aquino corresponde ao In X Libros Ethicorum, IV, 16 – Comentário à Ética de Aristóteles. A presente tradução foi feita a partir do texto latino da edição de Marietti, Turim, 1934).

Apresentamos, a seguir, o Tratado sobre o Brincar de S. Tomás de Aquino (1225-1274), o principal pensador medieval.

Dentre os diversos preconceitos a respeito da Idade Média, um dos mais injustos é o que a concebe como uma época que teria ignorado, ou mesmo combatido, o riso e o brincar. Na verdade, o homem medieval é muito sensível ao lúdico; convive a cada instante com o riso e com a brincadeira.

Comecemos pela fundamentação teológica do lúdico. Recordemos que o cristianismo (tão marcante na Idade Média), ao dar ao homem um vivo sentido de mistério e uma humildade anti-racionalista (não anti-racional; anti-racionalista!), dá-lhe também o senso de humor. Pois a leveza do riso pressupõe a aceitação da condição de criatura, de que o homem não é Deus, do mistério do ser, da não-pretensão de ter o mundo absoluta e ferreamente compreendido e dominado pela razão humana. O racionalismo, pelo contrário, é sério; toma-se demasiadamente a sério e, por isto mesmo, é tenso e não sabe sorrir.

O homem medieval brinca porque acredita vivamente naquela maravilhosa sentença bíblica que associa o brincar da Leia mais deste post

O fim da Cristandade (I): Uma intensa e dolorosa fermentação

Gustave Doré, Canto XIX da Divina Comedia, Inferno (simonia), de Dante Alighieri. Cena: Dante se dirige ao Papa Nicolau III (clique para ampliar)

Leia também: O fim da Cristandade (II): A crise do espírito

Estava a Igreja fatigada pelos esforços que fizera para manter e reforçar a sua autoridade no Ocidente? Tinha esgotado a sua seiva ao multiplicar os grandes empreendimentos? Seja como for, era visível em todos os terrenos que o seu impulso interior já não era o de antes e que havia menos vibração, menos fervor. Bastava olhar em volta para comprová-lo.

Não era só o papado que estava em causa, embora os pontífices se sucedessem, há bastante tempo, a um ritmo demasiado rápido para poderem ser eficazes, e embora as vacâncias da Santa Sé se prolongassem de forma inquietante (dez anos de vacância entre 1241 e 1305), e em breve o papado se transferisse de Roma para Avinhão. A cruzada pertencia agora ao passado; tanto sangue derramado não tinha evitado que o Santo Sepulcro permanecesse em poder dos infiéis. Em 1291, caía São João d’Acre. O zelo dos construtores de catedrais declinava; continuava-se a trabalhar para concluir grandes obras em andamento, mas já não era com o Leia mais deste post

Os grandes temas da Idade Média (III): A razão

A “deusa razão”, representada por uma prostituta, sendo carregada pelas ruas de Paris

“Se Deus é logos, segundo São João, e o homem também vem definido pelo logos, há adequação entre ambos e é possível um conhecimento da essência divina; pode haver uma teologia racional, embora fundada sobre os dados da revelação.”

“No momento em que o nominalismo de Ockham reduziu a razão a uma coisa de foro íntimo do homem, uma determinação sua puramente humana, e não essência da Divindade, neste momento o espírito humano também fica segregado desta. Portanto, sozinho, sem mundo e sem Deus, o espírito humano começa a se sentir inseguro no universo” (Zubiri: Hegel y El problema metafísico).

O logos aparece como um motivo cristão essencial desde os primeiros momentos. O começo do Evangelho de São João diz taxativamente que no princípio era o verbo, o logos, e que Deus era o logos. Isso quer dizer que Deus é, em primeiro lugar Leia mais deste post

Uma arte oratória bem sucedida: a pregação

O púlpito de Siena, feito em mármore de Carrara, foi esculpido em 1265, por Nicola Pisano e seu filho, Giovanni Pisano, bem como seus assistentes Arnolfo di Cambio, Lapo di Ricevuto e vários outros artistas. É a obra mais antiga da igreja. Nicola Pisano ganhou essa encomenda a partir de seu trabalho no púlpito de Pisa. Esse em Siena é mais ambicioso e é considerado sua obra-prima. Toda a mensagem do púlpito é centrada na doutrina da Salvação e no Julgamento Final. A escadaria foi feita em 1543 por Bartolomea Neroni. Mostra as influência do Gótico do norte, adaptados por Pisano, e ainda várias influências clássicas.
O chão em opus sectile é um dos mais decorados da Itália e cobre toda a área da Catedral. Sua construção durou dois séculos e quarenta artistas trabalharam na obra. São 56 painéis em diferentes tamanhos. O chão inteiro pode ser visto apenas durante três semanas ao ano. Para o proteger, no resto do ano, o pavimento é coberto e poucas áreas podem ser vistas.

Como é que a Igreja difunde as grandes noções dogmáticas que estão na base destas devoções, os dados da Escritura e da hagiografia? Essencialmente, pela pregação, cuja importância na época só compreenderemos se abstrairmos dos nossos hábitos modernos. Hoje, cada um de nós tem à sua disposição numerosos e cômodos meios de informação e entretenimento, mas devemos lembrar-nos de que na Idade Média não existiam jornais, nem rádio, nem televisão, nem cinema, nem reuniões políticas. Tudo isso, que absorve muito tempo e atenção dos nossos contemporâneos, era substituído naquela época pelas Leia mais deste post

Um afresco florentino

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Andrea da Firenze, frescoes, Spanish Chapel, Sta Maria Novella(clique para ampliar)

Um afresco florentino

Numa das paredes da sala do capítulo, no convento dominicano de Santa Maria Novella, em Florença, há um afresco diante do qual a maioria dos visitantes passa apressadamente e que, no entanto, se presta a uma inesgotável reflexão. Intitulam-no “os cães de Deus”, por causa dos molossos malhados de branco e negro que, na parte inferior do quadro, combatem uma horda de lobos. Na verdade, Leia mais deste post

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