Tomás responde: O sacramento da penitência é a “segunda tábua depois do naufrágio”?
21 agosto, 2014 1 Comentário
Jacopo Tintoretto (1518-1594), São Marcos salva um sarraceno durante um naufrágio (entre 1562-1566)
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Parece que a penitência não é a “segunda tábua depois do naufrágio”:
1. Com efeito, a respeito do texto: “Proclamam o seu pecado como Sodoma” (Is 3, 9) comenta a Glosa: “Esconder os pecados é a segunda tábua depois do naufrágio”. Ora, a penitência não esconde os pecados, mas antes os revela. Logo, a penitência não é a segunda tábua.
2. Além disso, o fundamento num edifício ocupa o primeiro lugar e não o segundo. Ora, a penitência no edifício espiritual é o fundamento, conforme a Carta aos Hebreus: “Sem lançar de novo o fundamento da penitência dos atos mortos” (6, 1). Por isso, ela deve preceder ao próprio batismo, conforme o que se lê: “Fazei penitência e receba cada um de vós o batismo” (At 2, 38). Logo a penitência não deve ser considerada a segunda tábua.
3. Ademais, todos os sacramentos são, sob certo aspecto, tábuas, isto é, remédio contra o pecado. Ora, a penitência não ocupa o segundo lugar entre os sacramentos, antes o quarto, como aparece do que foi dito acima (q. 65, a. 2). Logo, a penitência não deve ser chamada segunda tábua depois do naufrágio.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, Jerônimo ensina: “a penitência é a segunda tábua depois do naufrágio”.
Aquilo que é essencial precede, por natureza, ao que é acidental, assim como a substância precede ao acidente. Com efeito, certos sacramentos são destinados, por sua natureza, à salvação do ser humano; assim o batismo, que é a geração espiritual, a confirmação que é o crescimento espiritual e a Eucaristia que é o alimento espiritual. A penitência, porém, é ordenada à salvação como que de maneira acidental e condicional, a saber na hipótese do pecado. S o homem não cometesse algum pecado mortal atual, não necessitaria da penitência, mas sim do batismo, da confirmação e da Eucaristia. De modo semelhante à vida corporal, onde o ser humano não necessitaria de remédio a não ser em caso de enfermidade, mas teria necessidade essencial para a vida da geração, do crescimento e do alimento. Por isso, a penitência ocupa o segundo lugar em relação ao estado de integridade, que é concedido e conservado pelos sacramentos indicados. Desta sorte, ela é chamada, de maneira metafórica, “segunda tábua depois do naufrágio”. Pois, o primeiro remédio para os que atravessam o mar é conservar-se salvo no navio; o segundo remédio, porém, é, tendo este quebrado, agarrar-se a uma tábua. Assim, pois, o primeiro remédio dessa vida é que o homem conserve a integridade da graça; o segundo remédio, porém, é que, se a perdeu pelo pecado, volte a ela pela penitência.
Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se dizer que:
1. Podem-se esconder os pecados de duas maneiras. Em primeiro lugar, ao cometê-los. É pior pecar publicamente do que em particular, tanto porque o pecador público parece manifestar maior desprezo da lei, como também porque peca com escândalo dos outros. Por isso, já há certo remédio nos pecados cometidos em particular. É a respeito disso que a Glosa diz que “esconder os pecado é a segunda tábua depois do naufrágio”, não no sentido de que os pecados são por isto removidos, como no caso da penitência, mas porque por isto eles são menos graves. Leia mais deste post
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