Tomás explica: A verdade da razão natural não é contrária à verdade da fé cristã
20 novembro, 2012 3 Comentários
Rembrandt (1606-1669), O Apóstolo Paulo
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1. Embora a supracitada verdade da fé cristã exceda a capacidade da razão humana, os princípios que a razão tem postos em si pela natureza não podem ser contrários àquela verdade.
2. É certo que são veríssimos e que foram colocados na razão pela natureza, de modo que nem se pode cogitar que sejam falsos. Nem tampouco é permitido pensar ser falso o conteúdo da fé, já que com tanta evidência recebeu a confirmação divina. Ora, porque só o falso é contrário ao verdadeiro, o que se manifesta claramente ao se verificarem as definições de ambos, é impossível que a supracitada verdade da fé seja contrária aos princípios conhecidos naturalmente pela razão.
3. Além disso, na ciência do mestre está contido o que ele infunde na alma do discípulo, a não ser que o ensino seja fictício. Mas tal não se pode atribuir a Deus. Ora, o conhecimento dos princípios naturalmente evidentes é infundido em nós por Deus, pois Deus é o autor da natureza. Por conseguinte, esses princípios estão também contidos na sabedoria divina. Assim também, tudo que é contrário a eles contraria a sabedoria divina e não pode estar em Deus. Logo, as verdades recebidas pela revelação divina não podem ser contrárias ao conhecimento natural.
4. Além disso, o nosso intelecto fica impedido de conhecer quando está diante de razões contrárias e, então, não pode proceder para alcançar a verdade. Ora, se razões contrárias fossem em nós infundidas por Deus, o nosso intelecto ficaria impedido de conhecer a verdade. Tal, porém, não pode se dar em Deus.
5. Além disso, o que é natural não pode mudar, se a natureza permanece. Ora, opiniões contrárias sobre uma só coisa não podem subsistir no mesmo sujeito. Logo, Deus não infunde no homem conceitos e verdades de fé contrários ao conhecimento natural.
6. Donde afirmar o Apóstolo: Junto de ti, no teu coração e na tua boca, está a palavra da fé que pregamos (Rm 10, 8). Mas, porque esta palavra está acima da razão, foi tida por muitos como contrária a ela. Mas isto é impossível.
Também a autoridade de Agostinho concorda com essa doutrina, quando se apresenta nestas palavras: O que a verdade torna evidente, não pode, de modo algum, ser contrário ao conteúdo dos livros do Velho e do Novo Testamento (II Comentário Literal ao Gênesis, 18; PL 34, 280).
7. De todos esses raciocínios conclui-se que quaisquer razões que possam ser apresentadas contra as verdades ensinadas pela fé não procedem corretamente dos primeiros princípios conhecidos por si mesmos e vindos da própria natureza. Donde não possuírem força demonstrativa, pois não passam de razões prováveis ou sofísticas, que por si mesmas dão motivo para serem destruídas.
SCG, Livro1, Cap.7
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Toda a compreenção da fé cristã e da própria realidade remete a uma interpretação do próprio Deus.