A necessidade da Graça II – Sem a graça pode o homem querer e fazer o bem?

El_Greco_Pentecostes

Parece que o homem pode querer e fazer o bem sem a graça:

1. Com efeito, está no poder do homem aquilo sobre o quê ele é senhor. Ora, como foi dito acima (I-II, q.1, a.1 e q.13, a.6), o homem é senhor de seus atos e principalmente do ato do querer. Logo, o homem pode querer e fazer o bem por si mesmo, sem o auxílio da graça.

2. Além disso, cada um tem mais poder sobre aquilo que é conforme à sua natureza do que sobre aquilo que é estranho a essa natureza. Ora, o pecado, como disse Damasceno, é contrário à natureza, e o ato da virtude, como foi dito, está de acordo com a natureza humana. Logo, o ser humano por si mesmo pode pecar, e com maior razão pode querer e fazer o bem por si mesmo.

3. Ademais, o bem do intelecto é o verdadeiro, disse o Filósofo. Ora, o intelecto pode conhecer o verdadeiro por si mesmo, uma vez que toda coisa pode realizar por si mesma a operação natural. Logo, com maior razão pode o homem querer e fazer por si mesmo o bem.

EM SENTIDO CONTRÁRIO, como disse o Apóstolo: “Não pertence àquele que quer, o querer, nem ao que corre, o correr, mas a Deus que é misericordioso” (Rm 9, 16). E Agostinho diz que “sem a graça ninguém pode absolutamente fazer o bem: seja pensando, querendo, amando, ou agindo.

tomas_respondoA natureza humana pode ser considerada em dois aspectos diferentes: em sua integridade, tal como existiu em nosso primeiro pai antes do pecado; ou no estado de corrupção no qual estamos depois do pecado original. Nos dois estados, ela tem necessidade para fazer e querer o bem, de qualquer ordem que seja, do auxílio divino, considerado como primeiro movente, como foi dito. No estado de integridade, com respeito à capacidade da potência operativa, o homem podia, com suas forças naturais, querer e fazer o bem proporcionado à sua natureza, como é o bem da virtude adquirida, mas não um bem que a  ultrapassa, como é o bem da virtude infusa. No estado de corrupção, o homem falha naquilo que lhe é possível pela sua natureza, a tal ponto que ele não pode mais por suas forças naturais realizar totalmente o bem proporcionado à sua natureza. Entretanto, o pecado não corrompeu totalmente a natureza humana a ponto de privá-la de todo bem que lhe é natural. Assim, mesmo neste estado de corrupção o homem pode ainda fazer, por sua potência natural, algum bem particular, como construir casas, plantar vinhas, e outros trabalhos do mesmo gênero. Mas ele não é capaz de realizar em sua totalidade o bem que lhe é conatural, sem alguma falha. Ele parece um enfermo que pode ainda executar sozinho alguns movimentos, mas não pode mover-se perfeitamente como alguém em boa saúde, enquanto não obtiver a cura com a ajuda da medicina. Leia mais deste post

Tomás responde: Tudo o que Deus faz fora da ordem natural das coisas é milagre?

Jacopo Tintoretto (1518-1594), Santo Agostinho curando os aleijados (1550)

Parece que nem tudo o que Deus faz fora da ordem natural das coisas é milagre:

1. Com efeito, a criação do mundo, das almas e a justificação dos ímpios, Deus as faz fora da ordem natural, porque não são feitas pela ação de uma causa natural. No entanto, não se diz que são milagres. Logo, nem tudo o que faz fora da ordem natural das coisas é milagre.

2. Além disso, considera-se milagre algo difícil e insólito, que ultrapassa os poderes da natureza e a esperança de quem o admira. Ora, há coisas que se fazem fora da ordem natural e que não são difíceis. Acontecem nas mínimas coisas como na restauração de jóias, ou na cura dos doentes. Outras coisas não são insólitas porquanto acontecem com certa frequência: por exemplo, os doentes que eram deixados nas praças para serem curados pela sombra de Pedro. Há ainda outras que não estão acima dos poderes da natureza, como a cura das febres. Outras que não estão acima da esperança: todos nós esperamos a ressurreição dos mortos, que no entanto acontecerá fora da ordem natural. Logo, nem tudo o que se faz fora da ordem da natureza é milagre.

3. Ademais, a palavra milagre toma-se de admiração. Ora, a admiração se refere a coisas que se manifestam aos sentidos. Ocorrem, porém, às vezes, fora da ordem natural, algumas coisas não perceptíveis aos sentidos. Por exemplo, quando os apóstolos ficaram repletos de ciência sem a terem procurado nem aprendido. Por conseguinte, nem tudo o que se faz fora da ordem natural é milagre.

EM SENTIDO CONTRÁRIO, diz Agostinho: “Quando Deus faz alguma coisa fora do curso conhecido e habitual da natureza, nós dizemos que é grandioso e admirável”.

A palavra milagre toma-se de admiração. A admiração se dá quando os efeitos são manifestos e a causa, oculta. Por exemplo, uma pessoa admira quando vê um eclipse do sol, mas ignora a causa, como se diz no início do livro da Metafísica. Ora, a causa de um efeito aparente pode ser conhecida de alguns e ignorada por outros; portanto, isso pode parecer admirável para uns e para outros não: o rude admira o eclipse do sol; o astrônomo, não. Chama-se, pois, milagre o que é cheio de admiração, no sentido de que a causa fica absolutamente oculta para todos. Esta causa é Deus. Portanto, as coisas feitas por Deus fora das causas por nós conhecidas são chamadas de milagres.

Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se dizer que:

1. A criação e a justificação do ímpio, embora só Deus as possa fazer, não são no entanto chamadas propriamente milagres. Porque, por sua natureza, não são feitas por outras causas, e assim não acontecem fora da ordem natural. Na realidade, não pertencem a essa ordem.

2. O milagre é difícil, não em razão da dignidade da coisa em que se faz, mas porque ultrapassa o Leia mais deste post

Chestertoninas: O darwinismo e a “mãe natureza”

O darwinismo pode ser usado para dar suporte a duas moralidades insensatas, mas nunca poderá ser usado para dar suporte a uma única moralidade sã. O parentesco e a competição entre todas as criaturas vivas podem ser usados com motivo para sermos insanamente cruéis ou insanamente sentimentais, mas não para um amor sadio pelos animais. Na base evolucionista podemos ser desumanos ou absurdamente humanos, mas não podemos ser humanos. O fato de nós e o tigre sermos um só pode ser uma razão para sermos compassivos para com o tigre. Ou pode ser uma razão para sermos tão cruéis como o tigre. Podemos ensinar um tigre a imitar-nos, mas não podemos, com muito mais rapidez, imitar o tigre. No entanto, em nenhum dos casos a evolução nos dirá como tratar um tigre racionalmente, isto é, admirar-lhe as listas e evitar-lhes as garras.

Se desejamos tratar um tigre racionalmente, teremos de voltar ao jardim do Éden. Continua a vir-me à mente uma lembrança obstinada: apenas o sobrenatural tem uma visão sã da Natureza. A essência de todo o panteísmo, do evolucionismo e da moderna religião cósmica está, realmente, nesta afirmação: a Natureza é nossa mãe. Infelizmente, se olharmos a Natureza como mãe, descobriremos que ela é uma madrasta. A questão principal do Cristianismo era esta: a Natureza não é nossa mãe; a Natureza é nossa irmã. Podemos orgulhar-nos da sua beleza, pois temos o mesmo pai; mas ela não tem nenhuma autoridade sobre nós; temos de admirá-la, mas não imitá-la. Isto dá ao prazer tipicamente cristão, na Terra, um estranho toque de leveza que quase chega à frivolidade. A Natureza foi uma mãe severa para os adoradores de Isis e Cibele; a Natureza foi uma mãe severa para Wordsworth ou para Emerson. Mas a Natureza não é severa para S. Francisco de Assis ou para George Herbert. Para S. Francisco de Assis, a Natureza é uma irmã, uma irmã mais nova: pequena e que gosta de dançar, de quem rimos e a quem também amamos.

G. K. Chesterton, Ortodoxia

Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, Igreja, Teologia, Filosofia

O homem em discussão

Leonardo da Vinci, Homem Vitruviano (aprox. 1490),Gallerie dell’Accademia, Veneza

A consideração do homem na Suma Teológica não se reduz a algumas questões nas quais ele falou da lama humana e de sua criação à imagem de Deus no fim da primeira parte. De fato, esse estudo prossegue em toda a segunda parte, em que se encontram as indispensáveis considerações sobre os atos humanos, a liberdade, a consciência, as paixões, as virtudes, a vida social e as leis que a regem etc., sem omitir o fim da vida humana e os meios de graça que lhe permitem alcançá-lo. Não se poderia esquecer isso sem falsear totalmente a perspectiva do autor. O que se encontra na primeira parte é simplesmente o início dessa consideração em que Tomás começa situando o homem no vasto conjunto do universo. Segundo nossa própria linguagem, após ter falado de Deus em si mesmo, ele trata de Deus em sua relação com a criação. Uma vez que ele quer explorar o que significa o fato de que Deus seja princípio e fim de todas as coisas, deve falar da maneira pela qual as criaturas procedem de Deus: antes, a criação em si mesma, como ato de Deus, depois as diversas criaturas que compõem o universo criado. Distinguem-se sucessivamente três grandes categorias de seres saídos das mãos de Deus: os anjos, criaturas puramente espirituais; o mundo, criatura puramente corporal; e finalmente o homem, criatura ao mesmo tempo espiritual e corporal.

O simples enunciado dessa repartição da matéria nada diz ainda de seu conteúdo, mas permite ao menos entender a situação exata do homem nesse universo. Nem totalmente espiritual, nem totalmente corporal, ele é ao mesmo tempo um e outro, participando por sua alma do espírito e de sua imaterialidade, e por seu corpo da matéria e da corruptibilidade. Tomás convida o leitor a se maravilhar com essa criatura singular que lhe aparece como no ponto de junção entre dois mundos ao mesmo tempo em que resume em si a totalidade do universo:

Isso nos abre uma admirável perspectiva sob o encadeamento das coisas. Sempre, com efeito, o que há de mais humilde num determinado gênero toca aquilo que há de mais elevado no gênero imediatamente inferior. Assim, certos organismos animais rudimentares ultrapassam de pouco a vida das plantas: tais as ostras, imóveis, providas somente do tato, fixadas na terra como vegetais. Também Dionísio pode escrever: “A divina Sabedoria une os fins das realidades superiores aos princípios das realidades inferiores”. Entre os organismos animais, existe um, o corpo humano, dotado de uma complexidade perfeitamente equilibrada, que toca o que há de mais humilde no gênero superior, a saber, a alma humana, que ocupa o último degrau no gênero das substâncias intelectuais, como testemunha seu modo de intelecção. Vê-se por isso que a alma pensante pode ser considerada como uma espécie de horizonte e de linha fronteira (horizon et confinium) entre o universo corporal e o universo incorporal; substância incorporal, ela é, no entanto, forma de um corpo. E o composto formado pela alma intelectual e pelo corpo que ela anima é pelo menos também um, até mesmo mais, que o composto do fogo e sua matéria: mais a forma triunfa da matéria, mais forte é a unidade do composto.

Suma contra os gentios II 68, n. 1453

Esse texto é notável por mais de uma razão. Permite inicialmente dar-se conta de a que ponto seu autor se apresenta como o herdeiro da sabedoria dos antigos, porque ele combina aí na harmonia da síntese não somente temas, mas também Leia mais deste post

Fragmentos: A providência e a criatura racional

Quando algum todo não é o último fim, mas se ordena para um fim ulterior, o fim da parte não é o todo, mas outra coisa. O conjunto das criaturas ao qual é referido o homem como a parte ao todo não é o último fim, mas se ordena para Deus, como para seu último fim. Por isso, o bem que representa o universo não é o último fim do homem, mas o próprio Deus.

(Suma Teológica I-II, q.2 a.8)

É manifesto que a divina providência se estende a todas as coisas. Deve-se, entretanto, observar que, entre todas as outras criaturas, existe um regime providencial particular para as criaturas intelectuais e racionais. Elas ultrapassam as outras tanto pela perfeição de sua natureza quanto pela dignidade de seu fim.

Pela perfeição de sua natureza, porque apenas a criatura racional tem o domínio de seus atos, determinando-se ela mesma à sua operação própria, enquanto as outras criaturas são muito mais movidas do que se movem a si mesmas … Pela dignidade de seu fim, porque apenas a criatura intelectual chega a alcançar o fim último do universo por sua operação, conhecendo e amando Deus; enquanto as outras criaturas não podem chegar a esse fim último a não ser por uma certa semelhança participada.

(Suma contra gentios III, 111 n. 2.855)

Apenas a criatura racional é conduzida por Deus em sua atividade, referindo-se não somente à espécie, mas ainda ao indivíduo … A criatura racional depende da divina Providência como governada e digna de atenção por ela mesma e não somente em vista da espécie.

(Suma contra gentios III, 113)

As criaturas menos nobres existem para as mais nobres; por exemplo, as criaturas inferiores ao homem existem para Leia mais deste post

Tomás responde: A criatura corporal foi criada por Deus?

Albrecht Dürer (1471-1528), Adão e Eva, Museu do Prado, Madrid

Parece que a criatura corporal não foi criada por Deus:

1. Com efeito, lê-se no livro do Eclesiastes: “Aprendi que tudo o que Deus fez persevera para sempre” (3, 14). Ora, os corpos visíveis não perseveram para sempre, segundo se diz na segunda Carta aos Coríntios: “O que se vê é temporal, e o que não se vê é eterno” (4, 18). Logo, Deus não criou os corpos visíveis.

2. Além disso, diz o livro do Gênesis: “Deus viu as coisas que criou e que eram muito boas” (1, 31). Ora, as criaturas corporais são más, pois vemos muitas delas nocivas, como as serpentes, o calor do sol, etc. Por isso, uma coisa é dita má porque é nociva. Logo, as criaturas corporais não foram criadas por Deus.

3. Ademais, o que vem de Deus, dele não se afasta, mas leva a ele. Ora, as criaturas corporais afastam de Deus, razão por que escreveu o Apóstolo na segunda Carta aos Coríntios: “Não considerar as coisas que vemos” (4, 18). Logo, as criaturas corporais não foram criadas por Deus.

EM SENTIDO CONTRÁRIO, diz o Salmo 145: “Aquele que fez o céu e a terra, o mar e tudo o que neles existe” (v. 6).

RESPONDO. Afirmaram alguns heréticos que as coisas visíveis não foram criadas por um Deus bom, mas por um princípio mau. E como argumento de seu erro, citam o Apóstolo na segunda Carta aos Coríntios: “O deus deste século cegou as mentes dos infiéis” (4, 4). Essa afirmação é de todo impossível. Se coisas diversas se unem em uma, é necessário haver uma causa dessa união, pois as coisas diversas por si mesmas não se unem. Por isso, sempre que há união dessas coisas diversas, é necessário que a união venha de uma causa. Por exemplo, muitos corpos quentes recebem o calor do fogo. Ora, o ser é comum a todas as coisas, embora diversas. Daí ser necessário que haja um único princípio do ser, em virtude do qual tudo o que existe de qualquer modo recebe o ser, quer sejam as coisas invisíveis e espirituais, quer sejam as visíveis e corporais. Ademais, se diz que o diabo é Leia mais deste post

Tomás responde: O diabo desejou ser como Deus?

Gustave Doré, Satanás (clique para ampliar)

Parece que o diabo não desejou ser como Deus:

1. Na verdade, o que não é objeto do conhecimento não é do apetite, porque o bem conhecido move os apetites sensitivo, racional e intelectivo, porém só neste último há pecado. Ora, que uma criatura seja igual a Deus, isso não é objeto de conhecimento, pois implica contradição, porque o finito necessariamente seria infinito, se fosse igual ao infinito. Logo, o anjo não pôde desejar ser como Deus.

2. Além disso, o que é o fim da natureza pode-se desejar sem pecado. Ora, assemelhar-se a Deus é o fim ao qual tendem naturalmente todas as criaturas. Logo, se o anjo desejou ser como Deus, não por igualdade, mas por semelhança, parece que nisso não pecou.

3. Ademais, o anjo foi criado mais sábio que o homem. Ora, nenhum homem, a não ser totalmente sem entendimento, escolhe ser igual ao anjo ou a Deus, porque uma escolha tem por objeto coisas possíveis, que são o objeto da deliberação. Logo, o anjo, por maior razão, não pecou desejando ser como Deus.

EM SENTIDO CONTRÁRIO, diz-se em Isaías, a respeito do diabo: “Subirei para o alto e serei semelhante ao Altíssimo” (14, 13-14). Diz também Agostinho: “cheio de soberba, quis ser considerado Deus”.

RESPONDO. Indubitavelmente pecou o anjo desejando ser igual a Deus. Isso pode ser entendido de duas maneiras: primeiro, por igualdade; segundo, por semelhança. Por igualdade, não foi possível o demônio desejar ser Deus, porque sabia por conhecimento natural ser isso impossível; nem a seu primeiro pecado precedeu o hábito ou a paixão impedindo seu intelecto de, errando num caso particular, escolher o impossível, como, às vezes, nos acontece. Todavia, dado que fosse possível, isso seria contra o desejo natural. Há em todas as coisas o desejo natural da Leia mais deste post

A ação dos anjos sobre os homens (IV): O anjo pode agir sobre os sentidos humanos?

Giotto di Bondone (1266-1337), Vida de Cristo, Lamentação, Capela Scrovegni de Pádua, detalhe (clique para ampliar)

Parece que o anjo não pode agir sobre os sentidos humanos:

1. Com efeito, a operação dos sentidos é vital, e tal operação não provém de um princípio extrínseco. Logo, não pode ser causada por um anjo.

2. Além disso, a potência sensitiva é mais nobre que a nutritiva. Ora, parece que o anjo não pode agir sobre a potência nutritiva, nem sobre outras formas naturais. Logo, nem pode agir sobre a potência sensitiva.

3. Ademais, os sentidos movem-se naturalmente pelas coisas sensíveis. Ora, o anjo não pode agir sobre Leia mais deste post

A ação dos anjos sobre os homens (III): O anjo pode agir sobre a imaginação do homem?

Giotto di Bondone (1266-1337), Vida de Cristo, Lamentação, Capela Scrovegni de Pádua, detalhe (clique para ampliar)

Parece que o anjo não pode agir sobre a imaginação do homem:

1. Com efeito, segundo o livro da Alma, a fantasia é “um movimento realizado pelo sentido em ato”. Ora, se fosse feito por uma ação causada pelo anjo, não teria sido feita pelo sentido em ato.

2. Além disso, as formas que estão na imaginação, por serem espirituais, são mais nobres que aquelas que estão na matéria sensível. Ora, os anjos não podem imprimir Leia mais deste post

A ação dos anjos sobre os homens (II): Os anjos podem agir sobre a vontade do homem?

Giotto di Bondone (1266-1337), Vida de Cristo, Lamentação, Capela Scrovegni de Pádua, detalhe (clique para ampliar)

Parece que os anjos podem agir sobre a vontade do homem:

1. Com efeito, a propósito da passagem da Carta aos Hebreus: “Aquele que faz de seus anjos espíritos e de seus ministros chama de fogo” (1, 7), diz a Glosa: “São fogo porque têm o espírito ardente e queimam nossos vícios”. Ora, isso só é possível se podem agir sobre a vontade. Logo, os anjos podem agir sobre a vontade.

2. Além disso, Beda diz que “o diabo não inspira os maus pensamentos, mas os excita”. Já Damasceno vai mais longe, dizendo que também eles os inspiram, e acrescenta: toda malícia e as paixões imundas foram imaginadas pelos demônios e lhes foi concedido inspirá-las aos homens. Pela mesma razão, os anjos bons também Leia mais deste post

A ação dos anjos sobre os homens (I): O anjo pode iluminar o homem?

Giotto di Bondone (1266-1337), Vida de Cristo, Lamentação, Capela Scrovegni de Pádua, detalhe (clique para ampliar)

Uma vez que, como já vimos, os homens são guardados por anjos e cada homem é guardado por um anjo, resta agora saber como exatamente isso acontece, ou seja, como agem os anjos em nós, como se comunicam? Santo Tomás desenvolve o tema em quatro artigos, a saber:

1. O anjo pode iluminar o homem?

2. Os anjos podem agir sobre a vontade do homem?

3. O anjo pode agir sobre a imaginação do homem?

4. O anjo pode agir sobre os sentidos humanos?

Abaixo segue o primeiro artigo.

Parece que o anjo não pode iluminar o homem:

1. Com efeito, o homem é iluminado pela fé, tanto que Dionísio atribui a iluminação ao batismo, o sacramento da fé. Ora, a fé vem diretamente de Deus, como se diz na Carta aos Efésios: “É pela graça que vós sois salvos por meio da fé; e isso não depende de vós, é dom de Deus” (2, 8). Logo, o homem não é iluminado pelo anjo, mas imediatamente por Deus.

2. Além disso, a passagem da Carta aos Romanos que diz: “Deus lhes manifestou” (1, 19), a Glosa diz: “Não somente a razão natural foi útil manifestando aos homens as coisas divinas, mas ainda o próprio Deus lhes revelou por meio de sua obra”, ou seja Leia mais deste post

A Lei Moral 4: Há em nós uma lei natural?

Faith and Reason united, with St Thomas Aquinas teaching in the background and the inscription: “divinarum veritatum splendor, animo exceptus, ipsam juvat intelligentiam“, from Leo XIII’s encyclical Aeterni Patris (13). Painting by German painter Ludwig Seitz (1844–1908), Galleria dei Candelabri, Vatican (clique para ampliar).
Leia também:
A Lei Moral, ou “Como deixar um ateu em maus lençóis”
A Lei Moral 2: Lewis e a lei natural
A Lei Moral 3: O Esplendor da Verdade

Parece que não há em nós uma lei natural:

1. Com efeito, o homem é suficientemente governado pela lei eterna: diz Agostinho que “a lei eterna é aquela pela qual é justo que todas as coisas sejam ordenadíssimas”. Ora, a natureza não se excede nas coisas supérfluas, como não falta nas necessárias. Logo, não há uma lei natural para o homem.

2. Além disso, pela lei ordena-se o homem em seus atos para o fim, como acima se mostrou. Ora, a ordenação dos atos humanos para o fim não é pela natureza, como acontece nas criaturas irracionais, que só pelo apetite natural agem em razão do fim; mas age o homem Leia mais deste post

Tomás responde: A Mãe de Deus foi virgem ao conceber Cristo?

Eleoúsa (gr.: Ἐλεούσα) significa “a terna”, “a compassiva”; assim, quando aplicada à Mãe de Deus, passa a ser um dos títulos iconográficos marianos mais conhecidos: Virgem da Ternura. A Virgem leva o Menino em seu braço direito (dexiocratoúsa), aperta-o contra si e, inclinado a cabeça, toca, com sua face, a face do Filho. Este, afetuosamente, acaricia a Mãe com sua mãozinha. Essas são as principais características da tipologia iconográfica daTheotókos Eleúsa. Clique para ampliar. Fonte: http://ateliersantacruz.blogspot.com/

Parece que a Mãe de Deus não foi virgem ao conceber Cristo:

1. Com efeito, nenhum filho que tem pai e mãe é concebido de mãe virgem. Ora, de Cristo se diz não só que teve mãe, mas também pai: “Seu pai e sua mãe estavam admirados do que se dizia do menino”, está no Evangelho de Lucas (2, 33). E mais adiante: “Eis que teu pai e eu te buscávamos angustiados” (v. 48). Logo, Cristo não foi concebido de mãe virgem.

2. Além disso, o início do evangelho de Mateus prova que Cristo foi filho de Abraão e de David porque José era descendente de David. Tal prova ficaria sem valor se Leia mais deste post

Tomás responde: O pão pode converter-se no corpo de Cristo?

Milagre de Lanciano (clique para ampliar)

Parece que o pão não pode converter-se no corpo de Cristo:

1. Com efeito, a conversão é uma certa mudança. E em toda mudança, deve haver um sujeito, que está primeiro em potência e depois em ato, como diz o Filósofo: “O movimento é o ato que existe em potência.” Ora, não existe um sujeito comum da substância do pão e do corpo de Cristo. Pois, faz parte do ser substância não “estar no sujeito”. Logo, não é possível que toda a substância do pão se converta no corpo de Cristo.

2. Além disso, a forma daquilo em que alguma coisa se converte começa a existir na matéria do que se converte; assim como quando Leia mais deste post

A Lei Moral 3: O Esplendor da Verdade

Leia também:
A Lei Moral, ou “Como deixar um ateu em maus lençóis”
A Lei Moral 2: Lewis e a lei natural

40. O ensinamento do Concílio sublinha, por um lado, a actividade da razão humana na descoberta e na aplicação da lei moral: a vida moral exige a criatividade e o engenho próprios da pessoa, fonte e causa dos seus actos deliberados. Por outro lado, a razão obtém a sua verdade e autoridade da lei eterna, que não é senão a própria sabedoria divina. Na base da vida moral, está, pois, o princípio de uma «justa autonomia» do homem, sujeito pessoal dos seus actos. A lei moral provém de Deus e n’Ele encontra sempre a sua fonte: em virtude da razão natural, que deriva da sabedoria divina, ela é simultaneamente a lei própria do homem. De facto, a lei natural, como vimos, «não é mais do que a luz da inteligência infundida por Deus em nós. Graças a ela, conhecemos o que se deve cumprir e o que se deve evitar. Esta luz e esta lei, Deus a concedeu na criação». A justa autonomia da razão prática significa que o homem possui em si mesmo a própria lei, recebida do Criador. Mas, a autonomia da razão não pode significar a criação, por parte da mesma razão, dos valores e normas morais. Se esta autonomia implicasse Leia mais deste post

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