Tomás responde: Existe um preceito de dar esmolas?
23 janeiro, 2014 2 Comentários
Bartolomé Esteban Murillo (1617-1682), São Tomás de Villanueva distribuindo esmolas
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Parece que não existe um preceito de dar esmolas:
1. Com efeito, os conselhos são diferentes dos preceitos. Ora, dar esmolas é um preceito, segundo o livro de Daniel (4, 24): “Ó rei, aceita meu conselho: redime teus pecados com esmolas”. Logo, dar esmolas não é um preceito.
2. Além disso, a cada qual é lícito usar ou conservar os seus bens. Ora, conservando-os, não se pratica a esmola. Logo, é lícito não dar esmola e, portanto, ela não é um preceito.
3. Ademais, tudo o que cai sob um preceito, por um certo tempo obriga sob pena de pecado mortal, porque os preceitos afirmativos obrigam por um tempo determinado. Portanto, se dar esmola fosse um preceito, poder-se-ia determinar um tempo durante o qual pecaria mortalmente quem não a desse. Ora, não parece que seja o caso, pois sempre se pode pensar que provavelmente um indigente poderá ser socorrido de outra maneira, e que o dinheiro da esmola poderia ser-nos necessário, no presente ou no futuro. Logo, parece que dar esmola não é um preceito.
4. Ademais, todos os preceitos se reduzem aos do Decálogo; entre eles nada concerne à esmola. Logo, dar esmola não é um dos preceitos.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, ninguém é condenado ao castigo eterno por omissão de uma obra que não é preceito. Ora, alguns deverão sofrer esta pena, porque não praticaram a esmola, como se vê no Evangelho de Mateus (25, 41). Portanto, dar esmola é um preceito.
Como o amor ao próximo é um preceito, é necessário que tudo o que é indispensável para guarda-lo caia também sob o preceito. Ora, em virtude desse amor, não somente devemos querer o bem ao nosso próximo, mas inclusive realiza-lo: “Não amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade”, diz a primeira Carta de João (3, 18). Para querer e operar o bem em relação ao próximo é preciso socorrê-lo nas necessidades, a saber, dando-lhe esmolas. Logo, dar esmola é um preceito.
Mas, como os preceitos tratam de atos de virtude, dar esmola será obrigatório na medida em que este ato for necessário para a virtude, isto é, enquanto a reta razão o exige. Ora, isso implica duas ordens de considerações, relativamente ao que dá e ao que recebe a esmola. Do lado do doador, deve-se levar em conta que Leia mais deste post
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