A espiritualidade de Tomás (I): trinitária, da deificação e objetiva

Carlo Crivelli, Santo Tomás de Aquino, 1476

Uma espiritualidade trinitária

Se tentamos retomar as linhas mestras que nossa leitura permitiu salientar, é evidentemente isso que é preciso pôr no primeiro plano. Tomada como é no movimento de “saída” da Trindade e de “volta” para ela, pela iniciativa do Pai e graças à obra conjunta do Filho e do Espírito, a vida cristã segundo Tomás é uma realidade decididamente teologal, trinitária. Ela encontra o seu cume na vinda e na presença em nós das pessoas divinas, conhecidas e amadas numa experiência íntima e direta, em que a alma se torna dia a dia mais conforme ao seu modelo divino, até o dia em que totalmente transformada pela graça, tendo enfim adquirido a semelhança perfeita, entrará de maneira definitiva no movimento das trocas intratrinitárias.

A pessoa do pai se encontra aí especialmente honrada, uma vez que ela é a fonte da qual tudo parte e o cume ao qual tudo volta. Mas ela oferece à contemplação um abismo insondável que não se pode senão pressentir na espera da visão bem-aventurada. Longe de pensar poder se apropriar como mestre do mistério de Deus por seus conceitos e raciocínios, Tomás não cessa de estar consciente de que o mistério escapa a todas as compreensões, e ele convida o seu discípulo a se prostrar com ele na adoração do Inefável. Longe e conceber o mistério do Todo-Outro à maneira do sagrado misterioso e longínquo da história das religiões, ele o identifica ao Todo-Próximo, ao Pai de nosso irmão e Senhor Jesus que nos gera para a sua vida à imagem de seu Filho amado.

Nessa compreensão da realidade cristã, a pessoa do Filho é também salientada de maneira muito específica. Como Verbo, preside a primeira criação das coisas; como Verbo encarnado, encabeça a volta da humanidade para Deus. Segundo a linguagem proposta, ele é Leia mais deste post