Breve história do tomismo

PapaLeaoXIIIPapa Leão XIII

A controvérsia sobre o aristotelismo não acabou com o trabalho de Tomás de Aquino, muito menos com a sua morte. Em 1270, enquanto Santo Tomás ainda estava vivo, Stephen Tempier, o bispo de Paris, havia condenado várias proposições associadas ao averroísmo, embora entre elas não houvesse qualquer tese defendida pelo Aquinate. Depois de sua morte, contudo, em 1277, Tempier condenou 219 proposições, algumas das quais eram claramente encontradas em Santo Tomás. Isso levou Santo Alberto Magno à Paris para defender seu ex-aluno, ao mesmo tempo em que outros dominicanos também se lançaram à tarefa de defender a doutrina de seu irmão da Ordem dos Pregadores. Na verdade, o estudo de Santo Tomás tornar-se-ia obrigatório dentro da Ordem. A defesa dominicana e a consolidação do ensinamento de Santo Tomás, que começaram logo após a sua morte, às vezes são tomadas pelos historiadores como início do primeiro dos três períodos na história do tomismo. Que ela foi uma empreitada bem-sucedida torna-se evidente pelos fatos de Tomás de Aquino ser declarado santo pelo Papa João XXII em 1323 e de dois anos depois, em 1325, as condenações de Tempier de 1277 terem sido revogadas pelo seu sucessor.

Da mesma maneira que os dominicanos em geral haviam defendido Santo Tomás, os membros da ordem franciscana estavam entre os seus mais ferozes críticos. A rivalidade entre as duas ordens se tornariam ainda mais amarga com a influência dos pensadores franciscanos João Duns Scoto (1266-1308) e Guilherme de Ockham (1287-1347). Scoto e Ockham tendiam para o voluntarismo, que enfatiza a vontade de Deus sobre o Seu intelecto e, portanto, tornava Suas ações mais impenetráveis para nossa compreensão racional do que o são na visão de Santo Tomás. Ockham é notoriamente associado ao nominalismo, que nega a existência dos universais. Do ponto de vista tomista, essas doutrinas ameaçavam minar a inteligibilidade do mundo e os fundamentos racionais da ética e do nosso conhecimento de Deus. As posições do Aquinate foram habilmente defendidas pelas teses similares de João Capreolo (1380-1444), que ficou conhecido comoPrinceps Thomistarum, ou Primeiro dos Tomistas.

O segundo período na história do tomismo tem seu início às vezes datado aproximadamente na época da Leia mais deste post

Sto. Tomás, a vaca voadora e nós, por Olavo de Carvalho

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Sto. Tomás, a vaca voadora e nós

OLAVO DE CARVALHO (1)

Caderno de Cultura do IDEAS – Instituto de Estudos e Ações Sociais – da UniverCidade. Ano I, número I, Outubro de 2001.

A Antônio Donato Rosa e Júlio Fleichman.

Nenhum historiador profissional do mundo aceita hoje em dia a lenda setecentista que deprecia a Idade Média como “Idade das Trevas”, mas ela continua firmemente arraigada no credo universitário brasileiro e é repassada de geração em geração por sociopatas militantes e analfabetos funcionais aos quais um abuso de linguagem confere o estatuto de intelectuais acadêmicos.

Só isso já bastaria para ilustrar a imensidão do abismo mental que se alarga dia a dia entre as nações cultas e aquelas onde a negligência ou cumplicidade dos governantes permitiu que as instituições de ensino fossem monopolizadas por propagandistas e demagogos a serviço de grosseiras ambições de poder.

O discurso de depreciação da Idade Média foi criado por beletristas e agitadores do século XVIII como expediente de ocasião para a propaganda anti-religiosa, destinada a minar as bases morais e ideológicas da monarquia. Malgrado a imensa penetração que obteve na mitologia popular, graças ao respaldo de toda sorte de organizações políticas e sociedades pseudo-iniciáticas, o fato é que ela jamais existiu como teoria histórica aceitável nos meios científicos e hoje subsiste apenas em círculos de ativistas semiletrados do Terceiro Mundo, à margem das correntes vivas do pensamento mundial.

No Brasil ou na Zâmbia, “medieval” ainda pode ser usado como termo pejorativo nas polêmicas da mídia, mas quem quer que se deixe impressionar por isso mostra que é escravo de uma atmosfera mental provinciana, sem a mínima abertura para o horizonte maior da cultura universal.

Em contrapartida, não há estudioso sério que hoje possa contestar a afirmação de Schelling, segundo a qual a transição da filosofia medieval para a atmosfera moderna inaugurada por Descartes assinala a queda do pensamento filosófico para um nível pueril. (2)

Essa queda revela-se da maneira mais escandalosa na simples perda da técnica filosófica cujo domínio distingue o filósofo do beletrista e do ideólogo.

A longa prática da disputatio nas universidades havia dotado os intelectuais europeus de uma Leia mais deste post

Chestertoninas: O tomismo, casamento da consciência com a realidade

“Em outros termos, a essência do senso comum tomista é que dois agentes estão trabalhando – a realidade e a consciência dela – e que do seu encontro resulta uma espécie de casamento. Em verdade, é um casamento verdadeiro, porque é fecundo, sendo esta a única filosofia existente hoje no mundo realmente fecunda. Produz resultados práticos, precisamente porque é a combinação de um espírito aventuroso com um fato estranho. O Sr. Maritain serviu-se de admirável metáfora ao dizer que o fato externo fecunda a inteligência interna, assim como a abelha fecunda a flor. Seja como for, é sobre esse casamento, ou como queiram chamar-lhe, que se baseia todo o sistema de Santo Tomás: Deus fez o homem para que pudesse entrar em contato com a realidade, e o que Deus juntou ninguém o separe.”

G. K. Chesterton, Santo Tomás de Aquino

Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, Igreja, Teologia, Filosofia

Chestertoninas: O pragmatista e o tomista

“O pragmatista deseja ser prático, mas a sua prática vê-se, afinal, que é inteiramente teórica. O tomista começa por ser teórico, mas a sua teoria chega a resultados totalmente práticos. É por isso que grande parte do mundo está hoje retornando a ele.”

G. K. Chesterton, Santo Tomás de Aquino

Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, Igreja, Filosofia, Teologia

Olavo de Carvalho e Santo Tomás

“Assisti um maravilhoso DVD do filósofo Olavo de Carvalho e também li o livro que vem junto com o DVD e corresponde a transcrição da palestra. Nele o filósofo descreve o processo de ruptura entre as culturas sacra e mundana, mostrando a diferença do conceito de razão para Santo Tomás de Aquino e aquilo que compreendemos como razão hoje. Neste DVD conhecemos a descrição da estrutura de realidade segundo Santo Tomás e sua crença de que a abertura para a transcendência é condição básica para a racionalidade humana. Segundo Olavo, “a abertura para a transcendência é a alma humana. E ela não tem nada a ver com religião. Ela é um pressuposto da razão humana e um pressuposto da própria existência da religião. É imperdível e de uma racionalidade que chega a ser cortante! Em tempo: este DVD pode ser encontrado no site da Editora Ecclesiae. Trata-se de um curso de filosofia ministrado pelo Olavo de Carvalho título nº 18, ‘Santo Tomás de Aquino’.”

Fonte: Roberto Wagner Lima Nogueira

Deus e a Filosofia

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Prefácio

Fui educado num colégio católico francês, de onde saí, depois de sete anos de estudos, sem ter ouvido uma só vez, pelo menos tanto quanto me posso lembrar, o nome de São Tomás de Aquino. Quando chegou a altura de estudar filosofia, fui para um liceu público, cujo professor de filosofia, um discípulo tardio de Victor Cousin, certamente também nunca havia lido Tomás de Aquino. Na Sorbonne, nenhum dos meus professores sabia coisa alguma sobre a sua doutrina. Tudo o que acabei por saber foi que, se alguém fosse suficientemente louco para o ler, descobriria aí uma expressão dessa escolástica que, desde Descartes, se tinha tornado em mera arqueologia mental. Contudo, para mim a filosofia não era Descartes nem mesmo Kant Leia mais deste post

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