Fragmentos: A comunhão dos Santos

Como num corpo natural a operação de um membro se volta para o bem de todo o corpo, acontece o mesmo no corpo espiritual que é a Igreja. E, como todos os fiéis formam um só corpo, o bem de um é comunicado ao outro. “Nós somos todos membros uns dos outros” (Rm 12, 5). Por isso, entre os artigos de fé que os apóstolos nos transmitiram existe aquele de uma comunhão de bens (communio bonorum) na Igreja; é o que se chama a comunhão dos Santos (communio sanctorum).

 

Entre os membros da Igreja, o membro principal é Cristo, porque ele é a sua cabeça. “Deus o deu por cabeça a toda a Igreja que é seu corpo” (Ef 1, 22-23). O bem de Cristo é, pois, comunicado a todos os cristãos, como a virtude da cabeça é comunicada a todos os membros; e essa comunicação se efetua pelos sacramentos da Igreja, nos quais opera a virtude da paixão de Cristo, que dá eficazmente a graça para a remissão dos pecados.

 

Deve-se ainda saber que não é somente a eficácia da paixão de Cristo que nos foi comunicada, mas também o mérito de sua vida. E todo o bem que fizeram todos os santos é comunicado àqueles que vivem na caridade porque todos são um: “Eu sou associado a todos aqueles que te temem” (Sl 118, 63). Por isso aquele que vive na caridade participa de todo o bem que se faz no mundo inteiro.

(Expositio in Symbolum, a. 10, ns. 987, 988, 997)

 

[Duas razões podem explicar a eficácia da oração por alguma outra pessoa; evidentemente deve-se querer rezar por essa pessoa, mas o que é primeiro] é a unidade da caridade, dado que todos os que vivem na caridade formam como um só corpo. Assim, o bem de um jorra sobre todos, à maneira pela qual a mão ou qualquer outro membro está a serviço do corpo inteiro. É assim que todo bem realizado por um vale para cada um daqueles que vivem na caridade, segundo a palavra do Salmo (118, 63): “Eu sou associado a todos aqueles que te temem e que guardam os teus mandamentos”.

(Quodlibet II q.7 a.2)