[OFF] Julián Marías: Sociedade e Estado

Julián Marías em sua biblioteca

Com esse artigo inauguro também uma nova página no blog, intitulada [OFF], cujo objetivo é levar aos leitores do Suma Teológica bons textos com temas não relacionados, necessariamente, a Santo Tomás de Aquino ou à Suma Teológica (bem como ao grande Chesterton, que tem cadeira cativa nesse blog e merece lugar de destaque). Seguindo a linha de apresentar textos de alguns dos “profetas” de nosso passado relativamente recente, após vários escritos e vídeos do (literalmente) grande  Chesterton, vai agora um texto de 1945 de Julián Marías, da escola de Ortega, intitulado “Sociedade e Estado”. Nele, Julián Marías relata a progressiva intervenção do Estado na vida privada e, mais uma vez, qualquer semelhança com nossa situação atual é mera genialidade do autor. Boa leitura!

.

A alteração nas relações entre a sociedade e o Estado está em estreita conexão com o destino das unidades históricas em nosso tempo. Não cabe aqui uma análise da estrutura atual daquelas duas realidades; limitar-nos-emos pois, a assinalar, quase telegraficamente, o que há de peculiar e de novo em sua interação.

O termo intervencionismo poderia designar com uma só palavra o caráter que, de modo crescente, o Estado assume desde o século XIX, e com ritmo acelerado desde 1918. Convém, no entanto, proceder com cuidado, para não impedir por falta de rigor, que essa palavra esclareça a nossa situação. A intervenção progressiva do Estado na vida social não é privativa de nossa época, mas, como acabo de dizer, caracteriza um grande período; a simples aceleração desse processo nos últimos trinta anos não tem um significado em si mesmo, se não for particularizada em dois sentidos: primeiro, quanto à sua qualidade; segundo, quanto às suas causas.

O intervencionismo estatal foi imposto pelo próprio crescimento do Estado; isto é, assumindo o desempenho de novas tarefas, o Estado teve de exercer sua ação sobre as zonas da vida social que se achavam em conexão com aquelas tarefas. Assim, por exemplo, quando o Estado se torna responsável da sanidade do país e se encarrega da organização e manutenção de hospitais, clínicas e serviços de assistência, é normal que exija a vacinação obrigatória; se o Estado se obriga a estabelecer os centros de ensino da nação, é perfeitamente natural que exerça uma regulamentação da vida docente; desde que a ele se pede solução para os conflitos da vida econômica, necessita regular de alguma maneira a produção, o comércio, as relações de trabalho; visto que é trabalho seu proporcionar os meios de transporte, ele intervém na organização do trânsito. Tudo isto é evidente. (Outra questão na qual aqui não entrarei, é saber se é necessário ou simplesmente proveitoso que o Estado assuma todas estas funções e as intervenções correlativas, pelo menos na forma em que o fez; o caso da Inglaterra, mais uma vez, é uma advertência para uma consideração mais demorada do caso) Ora, à raiz da primeira Guerra Mundial, a multiplicação dos problemas compulsórios, somados à debilitação da sociedade em todos os países, exigiu a intervenção enérgica do Estado na maior parte dos assuntos públicos. Tudo isso seria pois normal e a situação presente diferiria da anterior somente por uma intensificação, perfeitamente justificada, de um caráter já existente; mas a questão muda de aspecto se a olhamos mais detidamente.

Seria normal que, uma vez superadas as perturbações dos primeiros anos de pós-guerra, o intervencionismo fosse cedendo, mas acontece justamente o contrário. Em segundo lugar, a intervenção estatal se foi estendendo a esferas antes não alcançadas: a religião, a raça, a condição social ou de classe, a vida intelectual, o matrimônio, a família, o número de filhos, às vezes até os costumes e as modas – a saudação, o vestuário, o adorno feminino. Pouco importa o signo dessas intervenções: o fato global de todas elas pode ser designado com o nome, tão gasto, de totalitarismo, que a rigor mais do que uma forma de Estado significa Leia mais deste post

Os grandes temas da Idade Média (III): A razão

A “deusa razão”, representada por uma prostituta, sendo carregada pelas ruas de Paris

“Se Deus é logos, segundo São João, e o homem também vem definido pelo logos, há adequação entre ambos e é possível um conhecimento da essência divina; pode haver uma teologia racional, embora fundada sobre os dados da revelação.”

“No momento em que o nominalismo de Ockham reduziu a razão a uma coisa de foro íntimo do homem, uma determinação sua puramente humana, e não essência da Divindade, neste momento o espírito humano também fica segregado desta. Portanto, sozinho, sem mundo e sem Deus, o espírito humano começa a se sentir inseguro no universo” (Zubiri: Hegel y El problema metafísico).

O logos aparece como um motivo cristão essencial desde os primeiros momentos. O começo do Evangelho de São João diz taxativamente que no princípio era o verbo, o logos, e que Deus era o logos. Isso quer dizer que Deus é, em primeiro lugar Leia mais deste post

Os grandes temas da Idade Média (II): A criação

Na imagem temos uma amostra das mais velhas galáxias jamais vistas opcticamente, formadas há 13 mil milhões de anos, quando o Universo tinha apenas 5% da sua idade actual. O tempo de exposição da imgem é de loucos: três meses a olhar sempre o mesmo local (!), permite-nos, através do seu estudo, perceber melhor como as estrelas e as galáxias se formaram no início do Universo.
Leia também: Os grandes temas da Idade Média (I): Os universais

O cristão parte de uma posição essencialmente distinta da grega, ou seja, da niilidade do mundo. Em outras palavras, o mundo é contingente, não necessário; não tem em si a sua razão de ser, mas a recebe de outro, que é Deus. O mundo é um ens ab alio, diferentemente do ens a se divino. Deus é criador, e o mundo, criado: dois modos de ser profundamente distintos e talvez irredutíveis. A criação é, portanto, o primeiro problema metafísico da Idade Média, do qual derivam, em suma, todos os demais.

A criação não deve ser confundida com o que os gregos chamam de gênese ou geração. A geração é um modo do movimento, o movimento substancial; este pressupõe um sujeito, um ente que se move e passa de um princípio a um fim. O carpinteiro que faz uma mesa a faz de Leia mais deste post

Os grandes temas da Idade Média (I): Os universais

Julián Marías
Leia também: Os grandes temas da Idade Média (II): A criação

A questão dos universais ocupa toda a Idade Média; chegou-se a dizer que toda a história da Escolástica é a da disputa em torno dos universais; isso não é correto; mas o problema está presente em todos os outros problemas e se desenvolve em íntima conexão com a totalidade deles. Os universais são os gêneros e as espécies e se opõe aos indivíduos; a questão é saber que tipo de realidade corresponde a esses universais. Os objetos que se apresentam a nossos sentidos são indivíduos: este, aquele; em contrapartida, os conceitos com que pensamos esses mesmos objetos são universais: o homem, a árvore. As coisas que temos à vista são pensadas mediante suas espécies e seus gêneros; qual a relação desses universais com elas? Em outras palavras, em que medida nossos conhecimentos se referem à realidade? Coloca-se, portanto, o problema de saber se Leia mais deste post

As idéias

gifindicePlato1(clique para ampliar)

A descoberta

Qual o problema com que Platão tem de se haver? Com o mesmo problema que a metafísica grega vinha levantando desde Parmênides: com o problema do ser e do não-ser. Durante mais de um século, a filosofia helênica lutara para resolver a aporia de tornar compatível o ente – uno, imóvel e eterno – com as coisas – múltiplas, variáveis, perecíveis. Vimos que a filosofia pré-socrática posterior a Parmênides se constituíra em Leia mais deste post

%d blogueiros gostam disto: