Tomás responde: Foi conveniente ter Cristo ressurgido no terceiro dia?

Giotto di Bondone (1266-1337), A Ressurreição, Capela Scrovegni, Pádua

Leia também: Tomás responde: Havia necessidade de Cristo ressuscitar?

.

Parece que não foi conveniente ter Cristo ressurgido no terceiro dia:

1. Na verdade, deve haver conformidade entre os membros e a cabeça. Ora, nós, que somos membros de Cristo, não ressurgimos da morte no terceiro dia, mas nossa ressurreição é adiada até o fim do mundo. Logo, parece que Cristo, que é nossa cabeça, não devia ressurgir no terceiro dia, mas ter sua ressurreição adiada para o fim do mundo.

2. Além disso, diz Pedro, nos Atos dos Apóstolos, que não era possível que o inferno e a morte detivessem Cristo. Ora, quando alguém está morto, a morte o detém. Logo, parece que a ressurreição de Cristo não deveria ser adiada até o terceiro dia, mas que ele deveria ressurgir imediatamente, no mesmo dia, especialmente quando a Glosa citada acima (artigo precedente) diz que “não haveria nenhuma utilidade para a efusão do sangue de Cristo se não ressurgisse logo”.

3. Ademais, parece que o dia começa com o nascer do sol, cuja presença é causa do dia. Ora, Cristo ressurgiu antes do nascer do sol, pois diz o Evangelho de João que “no primeiro dia da semana, ao alvorecer, enquanto ainda estava meio escuro, Maria de Magdala vai ao túmulo” (20, 1), e nesse momento Cristo já havia ressuscitado, como se vê a seguir: “E vê que a pedra fora retirada do túmulo”. Logo, Cristo não ressuscitou no terceiro dia.

EM SENTIDO CONTRÁRIO, diz o Evangelho de Mateus: “E o entregarão aos pagãos para que o escarneçam, o flagelem, o crucifiquem e, no terceiro dia, ele ressurgirá” (20, 19).

Como foi afirmado (artigo precedente), a ressurreição de Cristo foi necessária para a instrução de nossa fé. Ora, a nossa fé diz respeito tanto à divindade como à humanidade de Cristo, pois não basta crer numa sem a outra, como está claro pelo que foi dito acima (q.36 a.4). Portanto, para que se confirmasse nossa fé a respeito da divindade dele, era preciso que ele ressuscitasse logo e que sua ressurreição não fosse adiada até o final do mundo. E para que se confirmasse a fé a respeito da verdade da humanidade e da morte dele, foi conveniente ter havido um espaço de tempo entre a morte e a ressurreição. Pois, se tivesse ressuscitado logo após a morte, poderia parecer que sua morte não fora verdadeira e, conseqüentemente, nem a ressurreição. Para manifestar, porém, a verdade da morte de Cristo, era suficiente que sua ressurreição fosse adiada até o terceiro dia, pois nesse espaço de tempo não costumam aparecer alguns sinais de Leia mais deste post

Os enigmas do Evangelho

Giotto di Bondone(1266-1337), Cristo ante Caifás, Capela Scrovegni, Pádua

O que sentiríamos ante o primeiro sussurro de certa sugestão sobre certo homem? Com certeza não nos cabe censurar ninguém que julgasse esse primeiro sussurro desvairado como algo simplesmente ímpio ou insano. Pelo contrário, tropeçar nessa pedra de escândalo é o primeiro passo. A incredulidade nua e crua é um atributo muito mais leal a essa verdade que uma metafísica modernista que a explicasse simplesmente como uma questão de grau. Melhor seria rasgar nossas vestes emitindo um alto brado contra a blasfêmia, como fez Caifás no julgamento, ou tomar o homem por um maníaco possuído por demônios, como fizeram os parentes e a multidão, em vez de insistir em discussões estúpidas sobre pequenos detalhes de panteísmo na presença de uma reivindicação tão catastrófica. Há mais sabedoria que se identifica com a surpresa de qualquer pessoa simples, repleta da sensibilidade da simplicidade, capaz de esperar que a relva secasse e os pássaros caíssem mortos da altura de seus vôos, quando um aprendiz de carpinteiro em sua lenta caminhada dissesse calmamente, quase por acaso, como quem está atento a alguma outra coisa: “Antes que Abraão existisse, eu sou”.


Por G. K. Chesterton

Para entender a natureza deste capítulo é preciso recorrer à natureza deste livro. A argumentação escolhida como espinha dorsal do livro é aquele tipo de argumentação denominado reductio ad absurdum. Ela sugere que os resultados da aceitação da tese do racionalismo são mais irracionais que os nossos; mas para provar isso precisamos aceitar aquela tese. Assim, na primeira seção muitas vezes tratei o homem simplesmente como um animal para mostrar que o resultado disso era mais impossível do que se ele fosse tratado como um anjo. No mesmo sentido em que foi preciso tratar o homem simplesmente como um animal, é preciso tratar a Cristo simplesmente como homem. Devo suspender minhas próprias crenças, que são muito mais positivas e assim, partir da pressuposição de que essa limitação de fato existe, até mesmo para jogá-la por terra, para imaginar o que aconteceria com um homem que realmente lesse a história de Cristo como a história do homem; e até mesmo como a história de um homem de quem ele nunca tinha ouvido falar. E pretendo ressaltar que uma leitura realmente imparcial dessa espécie no mínimo provocaria, mesmo que não fosse imediatamente à fé, um espanto para o qual não haveria nenhuma solução a não ser Leia mais deste post

Tomás responde: Os homens são guardados por anjos?

Giotto di Bondone (1266-1337), O anjo Gabriel enviado por Deus, Capela Scrovegni, Pádua

Parece que os homens não são guardados por anjos:

1. Com efeito, delegam-se  guardas àqueles que não sabem ou não podem guardar a si mesmos, como às crianças e doentes. Ora, o homem, tendo o livre-arbítrio, pode guardar a si mesmo, e sabe, graças ao conhecimento natural da lei natural. Logo, o homem não é guardado pelo anjo.

2. Além disso, parece inútil uma guarda mais fraca onde existe uma mais forte. Ora, os homens são guardados por Leia mais deste post

%d blogueiros gostam disto: