Tomás responde: A esperança é uma virtude?

Jacques Du Broeucq, Estátua da Esperança (entre 1541-1545), Igreja Sainte-Waudru de Mons, Bélgica

Parece que a esperança não é uma virtude:

1. Com efeito, diz Agostinho: “Ninguém usa mal da virtude”. Ora, usa-se mal da esperança, porque ela comporta, como as outras paixões, meio e extremos. Logo, a esperança não é uma virtude.

2. Além disso, nenhuma virtude procede de méritos, porque “a virtude, Deus a opera em nós sem nós”, como diz Agostinho. Ora, “a esperança tem por origem a graça e os méritos”, como diz o Mestre das Sentenças. Logo, a esperança não é virtude.

3. Ademais, “A virtude é a disposição do que é perfeito”, diz o livro VII da Física. Ora, a esperança é disposição do que é imperfeito, isto é, daquele que não tem aquilo que espera. Logo, a esperança não é virtude.

EM SENTIDO CONTRÁRIO, Gregório diz que as três filhas de Jó significam as três virtudes: fé, esperança e caridade. Logo, a esperança é uma virtude.

Segundo o Filósofo: “a virtude de cada coisa é o que torna bom o que a possui e torna boa a sua ação”. Logo, é necessário que onde se encontra um ato bom do homem, este ato corresponde a uma virtude humana. Ora, em todas as coisas submissas a regras e a medidas, o bem se reconhece pelo fato de que uma coisa atinge a sua regra própria; assim, dizemos que a roupa é boa, se não vai além nem aquém da medida devida. Ora, para os atos humanos, como foi dito acima (I-II, q.71, a.6), há duas medidas: uma imediata e homogênea, que é a razão; outra, suprema e transcendente, que é Deus. Por isso, todo ato humano que esteja de acordo com a razão ou com o próprio Deus é bom. Mas, o ato da esperança, do qual agora falamos, se refere a Deus. Com efeito, como já foi dito, quando se tratou da paixão da esperança, o objeto da esperança é um bem futuro, difícil, mas que se pode obter. Ora, uma coisa nos é possível, de dois modos: por nós mesmos ou por outrem, como está claro no livro III da Ética. Enquanto, pois, esperamos alguma coisa como possível pelo auxílio divino, nossa esperança se refere ao Leia mais deste post

A revolução aristotélica

Luca della Robbia (1400-1481), Platão e Aristóteles (1437-1439), Florença

O que tornou a revolução aristotélica profundamente revolucionária foi o fato de ser religiosa. E é este um ponto tão fundamental, que julguei conveniente apresentá-lo nas primeiras páginas deste livro – que a revolta foi em grande parte uma revolta dos elementos mais cristãos da Cristandade. Santo Tomás, exatamente como São Francisco, sentiu no subconsciente que a massa da sua gente ia deixando a sólida doutrina e disciplina católica, gasta lentamente durante mais de mil anos de rotina, e que a fé precisava ser apresentada a uma nova luz e vista por ângulo diverso. Não tinha outro motivo senão o de desejar torná-la popular para a salvação do povo. De maneira geral, é verdade que por algum tempo ela fora demasiado platônica para ser popular. Precisava ele de algo como o toque sagaz e familiar de Aristóteles, para transformá-la de novo em religião de senso comum. Tanto o motivo como o método se manifestam na controvérsia de Tomás de Aquino com os agostinianos.

Antes de tudo, devemos recordar que a influência grega continuou a se fazer sentir desde o Império Grego, ou ao menos desde o mesmo centro do Império Romano, situado agora na cidade grega de Bizâncio e já não em Roma. Tal influência era bizantina em todos os sentidos, no bom e no mau. Como a arte bizantina, era severa, matemática e um tanto terrível; como a etiqueta bizantina, era oriental e ligeiramente decadente. Devemos ao saber do Sr. C. Dawson muita luz sobre o modo como Bizâncio lentamente se cristalizou numa espécie de teocracia asiática, mais semelhante à do sagrado imperador da China. Mas até as pessoas incultas podem ver a diferença no modo como o Cristianismo oriental simplificava tudo: no modo, por exemplo, como reduzia as imagens a ícones que melhor se poderiam chamar figurinos do que verdadeiros quadros com variedade e arte; e isso fez decidida e destrutiva guerra às estátuas.

Vemos, assim, esta coisa estranha: o Oriente era a terra da cruz, e o Ocidente a terra do crucifixo. Os gregos estavam-se desumanizando por um símbolo radiante, enquanto os godos se iam humanizando por um instrumento de tortura. Só o Ocidente fez Leia mais deste post

Chestertoninas: Tomás e Aristóteles

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“Aristóteles descrevera o homem magnânimo, que é grande e que sabe que o é. Mas Aristóteles nunca teria recuperado a sua grandeza aos olhos do mundo se não fosse o milagre que criou o mais magnânimo dos homens: um homem que é grande, e que sabe que é pequeno.”

 

G.K. Chesterton, Santo Tomás de Aquino, Ed. LTr

Tomás de Aquino, Santo Tomás


Tomás responde: Deus é onipotente?

Deus pode tudo? Pode desfazer o passado? (Este, na verdade, é o assunto do artigo seguinte desta questão). Pode não ser amor? Pode fazer um círculo quadrado? Pode deixar de ser Deus? Se não, então não é verdade que pode tudo. Mas o que, afinal, significa ser “onipotente”? Tomás responde!

À primeira vista, parece que Deus não é onipotente, pois:

1. Com efeito, ser movido e ser passivo é próprio de tudo. Ora, isso não cabe a Deus, pois Ele é imóvel, como já foi dito. Logo, não é onipotente.

2. Além disso, pecar é um agir. Ora, Deus não pode Leia mais deste post

Tomás responde: O pão pode converter-se no corpo de Cristo?

Milagre de Lanciano (clique para ampliar)

Parece que o pão não pode converter-se no corpo de Cristo:

1. Com efeito, a conversão é uma certa mudança. E em toda mudança, deve haver um sujeito, que está primeiro em potência e depois em ato, como diz o Filósofo: “O movimento é o ato que existe em potência.” Ora, não existe um sujeito comum da substância do pão e do corpo de Cristo. Pois, faz parte do ser substância não “estar no sujeito”. Logo, não é possível que toda a substância do pão se converta no corpo de Cristo.

2. Além disso, a forma daquilo em que alguma coisa se converte começa a existir na matéria do que se converte; assim como quando Leia mais deste post

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