Tomás explica: Qual o modo possível de se manifestar a verdade

Guido Reni (1575-1642), Arcanjo Miguel (cerca de 1636), Santa Maria della Concezione, Roma

1. Não há um só modo de se manifestar toda a verdade. Boécio cita-o, qualificando como muito bem dito, o seguinte texto do Filósofo: “É próprio daquele que tem a razão bem ordenada, tentar apreender a realidade de cada coisa, enquanto o permitir a natureza desta (I Ética 1, 1094b; Cmt 3, 36). Assim sendo, é necessário, em primeiro lugar, mostrar qual o modo possível de se manifestar a verdade proposta.

2. Há, com efeito, duas ordens de verdades que afirmamos de Deus. Algumas são verdades referentes a Deus e que excedem toda capacidade da razão humana, como, por exemplo, Deus ser trino e uno. Outras são aquelas as quais a razão pode admitir, como, por exemplo, Deus ser, Deus ser uno, e outras semelhantes. Estas os filósofos, conduzidos pela luz da razão natural, provaram, por via demonstrativa, poderem ser realmente atribuídas a Deus.

3. É evidentíssimo que existem verdades referentes a Deus e que excedem totalmente a capacidade da razão humana. Ora, o princípio de todo conhecimento que a razão apreende em alguma coisa é a intelecção da sua substância. Aliás, segundo ensinamento do Filósofo, o princípio da demonstração é o que a coisa é. Daí ser conveniente que, segundo o modo pelo qual a inteligência conhece a substância da coisa, seja também o modo de se conhecer tudo o que pertence a esta coisa. Por conseguinte, se o intelecto humano compreende a substância de uma coisa, seja de uma pedra ou de um triângulo, nenhuma das realidades inteligíveis desta coisa excede a capacidade da razão humana.

Porém, com relação a Deus, tal não acontece. Isto porque o intelecto humano não pode chegar a apreender a substância divina pela sua capacidade natural. Como o nosso intelecto, no estado da presente vida, tem o conhecimento iniciado nos sentidos, aquelas coisas que não caem nos sentidos não podem ser apreendidas por ele, a não ser enquanto o conhecimento delas tenha sido deduzido das coisas sensíveis. Ora, as coisas sensíveis não podem Leia mais deste post

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