Livro: Steven Pressfield e as batalhas interiores – A Guerra da Arte

 

O livro pode ser baixado em três formatos (ePUB, PDF e MOBI) no link no final.

Descrição do livro

Este livro é sobre o talento que você sabe que possui e quer dividir com a humanidade. Sobre projetos há muito acalentados, sejam eles, escrever um livro, começar uma obra social ou um negócio. No entanto, o primeiro passo aprece sempre impossível. Entre você e seu objetivo, existe uma montanha de obstáculos. E mesmo que na maioria das vezes eles sejam imaginários, parecem, aqui e agora, intransponíveis. Assim como de nada vale todo o esforço do mundo sem talento e um pouco de sorte, talento e sorte não bastam para quem não se esforça. Steven Pressfield ensina o leitor a buscar suas musas onde estão escondidas, e a chamar os anjos de maneira que eles respondam. (Fonte: Amazon)

Sobre o autor

Suas obras de ficção histórica têm alto valor de pesquisa, mas, para dar andamento ao drama, Pressfield pode alterar alguns detalhes, como a seqüência dos eventos, ou fazer uso de termos contemporâneos e nomes de locais celebrados, com o objetivo, segundo ele, de tentar capturar o “espírito dos tempos”.

Para aumentar a imersão dos leitores aos tempos antigos, Pressfield tipicamente escreve seus livros a partir do ponto de vista dos personagens envolvidos. Em The Virtues of War (As Virtudes da Guerra), por exemplo, a história é contada a partir da perspectiva em primeira pessoa de Alexandre.

O épico Portões de Fogo é requisito na Academia Militar dos Estados Unidos e no Instituto Militar de Virgínia, e de acordo com o L. A. Times, “alcançou status cult entre marines”. (Fonte: Wiki)

 

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As vantagens de ter uma perna

Chesterton

UM AMIGO MEU, que estava visitando uma pobre mulher enlutada e procurava alguma frase de consolo que não fosse insolente nem fraca, disse, enfim: “Acredito que é possível atravessar essas grandes penas e sair delas melhor do que se entrou. O que desgasta são as pequenas preocupações”. “É bem verdade”, respondeu a velha senhora com ênfase, “e eu sei bem disso, considerando que tive uma dezena delas.” É, talvez, neste sentido que é profundamente verdadeiro que as pequenas preocupações são as mais desgastantes. Em seu significado mais vago, embora a expressão contenha uma verdade, contém também algumas possibilidades de auto-engano e erro. As pessoas que têm tanto grandes quanto pequenos problemas têm o direito de dizer que consideram piores os pequenos, e é indubitavelmente verdade que as costas que estão vergadas sob fardos incríveis conseguem sentir um leve aumento sob eles: um gigante sustentando a terra e toda a sua criação animal poderia achar que o gafanhoto é um fardo a mais. Mas temo que a máxima de que as menores preocupações são as piores seja às vezes usada e abusada pelas pessoas porque elas não têm senão as menores de todas as penas. A dama pode desculpar a si mesma por irritar-se com uma pétala de rosa amassada refletindo sobre a extraordinária dignidade com que ela usaria a coroa de espinhos – se fosse preciso. O cavalheiro pode permitir-se maldizer o jantar e imaginar que se portaria muito melhor se fosse mera questão de passar fome. Não é preciso negar que o gafanhoto no ombro de um homem é um fardo; mas não precisamos respeitar excessivamente o cavalheiro que está sempre dizendo que preferiria carregar um elefante quando sabe que não há elefantes no país. Podemos admitir que uma palha pode quebrar as costas de um camelo, mas gostamos de saber que é realmente a última palha e não a primeira. Admito que aqueles que sofrem grandes males têm um direito real de queixar-se, desde que se queixem sobre outra coisa. É um fato singular que, se são pessoas sãs, quase sempre queixam-se mesmo sobre outras coisas. Falar de forma racional sobre os próprios problemas reais é a forma mais rápida de

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O vento e as árvores

chesterton

ESTOU SENTADO sob árvores altas, com uma forte ventania varrendo suas copas como se fossem ondas, de tal forma que seu carregamento vivo de folhas balança e ruge com algo que é ao mesmo tempo exultação e agonia. Sinto-me, de fato, como se estivesse realmente sentado no fundo do mar entre meras âncoras e cordas, enquanto sobre a minha cabeça e a penumbra verde da água soassem o eterno fragor das ondas e as dificuldades e colisões e naufrágios de navios tremendos. O vento puxa as árvores como se pudesse arrancá-las da terra com raiz e tudo feito fossem tufos de grama. Ou, para tentar usar ainda outra desesperada figura de linguagem para essa energia indescritível, as árvores estão repuxando e rasgando e açoitando o ar como se fossem uma tribo de dragões amarrados pelas caudas. Enquanto olho estes gigantes cabeçudos torturados por um violento e invisível feitiço, uma frase volta à minha mente. Lembro-me de um menininho meu conhecido que estava uma vez andando em Battersea Park sob um céu tão tormentoso e árvores tão agitadas quanto hoje. Ele não gostava nem um pouco do vento: soprava demais em sua face, fazia-o fechar os olhos e arrancava seu chapéu, do qual tinha muito orgulho. Tinha, se me lembro bem, quatro anos. Após reclamar repetidamente da instabilidade atmosférica, disse enfim para sua mãe: “Bem, por que você não manda as árvores embora e faz parar de ventar?” Nada poderia ser mais inteligente ou natural que esse engano. Qualquer um que olhasse as árvores pela primeira vez poderia imaginar que eram na verdade vastos e titânicos leques, que por seu simples balanço agitavam o ar por milhas ao seu redor. Nada, penso eu, poderia ser mais humano e desculpável do que a crença de que são as árvores que causam o vento. Com efeito, é tão humana e desculpável que é, na prática, a crença de aproximadamente noventa e nove de cada cem filósofos, reformadores, sociólogos e políticos da grande época em que vivemos. Meu pequeno amigo era, de fato, muito semelhante aos principais pensadores modernos; só que muito mais simpático.

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O país de pernas para o ar

chesterton

SEMANA PASSADA, em uma metáfora despretensiosa, tomei o balanço das árvores e a secreta energia do vento como um típico exemplo do mundo visível movendo-se sob a violência do invisível. Usei essa metáfora simplesmente porque estava escrevendo o artigo num bosque. Porém, agora que retornei a Fleet Street (que me parece, confesso, muito melhor e mais poética do que todas as florestas selvagens do mundo), sou estranhamente perseguido por essa comparação acidental. Os vultos das pessoas parecem uma floresta, e suas almas o vento. Todas as personalidades humanas que me falam ou fazem sinais parecem ter essa característica fantástica da orla da floresta contra o céu. Aquele homem que fala comigo: que é senão uma árvore articulada? Aquele motorista de caminhão que gesticula selvagemente para que eu saia do caminho: que é senão um feixe de galhos agitados por um vento espiritual, um objeto silvestre que posso continuar a contemplar com calma? Aquele policial que ergue a mão para avisar três ônibus do perigo que correm de encontrar-se com minha pessoa: que é senão um arbusto sacudido por um momento por aquela rajada de lei humana que é algo mais forte do que a anarquia? Gradualmente, essa impressão de floresta se esvai. Mas o absoluto contraste entre o visível e o invisível, essa profunda sensação de que a única crença essencial é a crença no invisível como contrário do visível, súbita e sensacionalmente é trazida de volta a minha mente. Exatamente no momento em que Fleet Street se torna mais familiar (isto é, mais desconcertante e esplendorosa), meus olhos caem sobre um cartaz de vívido violeta, em que posso ver escritas em grandes letras pretas estas palavras extraordinárias: “Balconistas de Lojas Deveriam Casar-se?” Quando vi aquelas palavras o mundo todo poderia ter virado de cabeça para baixo. Os homens em Fleet Street poderiam estar andando com as mãos. A cruz de St. Paul poderia estar pendurada no ar de cabeça para baixo. Pois percebo que realmente entrei em um país dos avessos; entrei no país em que os homens definitivamente acreditam que o balanço das árvores é o que provoca o

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Novo livro para baixar: São Tomás de Aquino em 90 minutos

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La Belleza de la Física

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Equação do Modelo Padrão

Collins bebió su último sorbo de té más o menos para el tiempo en el que yo terminé mi vaso con agua.

– Vamos a reabastecernos – dijo, indicándome que le siguiera por el pasillo.

Sin estudiantes o catedráticos, el edificio estaba siniestramente callado, nuestras voces hacían un leve eco mientras caminábamos por el corredor vacío.

– El día está demasiado bello como para pasar mucho tiempo dentro del edificio – comenté mientras llegábamos al área de la cocina.

– Sí, está perfecto para correr – dijo Collins.

Llené mi vaso con agua mientras él mezclaba su té. El silencio prevaleció por unos cuantos momentos, y luego Collins señaló:

– El hablar sobre la belleza me recordó otra línea de razonamiento que apunta hacia un diseñador – dijo.

– ¿De verdad? – pregunté -. Cuéntame.

Piensa en la extraordinaria belleza, elegancia, armonía e ingenio que encontramos en las leyes de la naturaleza – contestó mientras nos dirigíamos de vuelta as salón de conferencias -. Se han escrito libros enteros al respeto. Weinberg se pasó un capítulo entero explicando cómo se han utilizado los criterios de belleza y elegancia para guiar a los físicos al formular las leyes correctas. El físico teórico Alan Guth dijo que la construcción original de las teorías indicadoras de la física de partículas fundamentales “fue motivada principalmente por su elegancia matemática”. Uno de los científicos más influyentes del siglo veinte, Paul Dirac, ganador del premio Nobel y académico en Cambridge, hasta afirmó que “es más importante tener belleza en nuestras ecuaciones que hacer que estas se ajusten al experimento”. Un historiador dijo que la belleza matemática fue una “parte integral” de la estrategia de Dirac. Dijo que Dirac creía que los físicos “tenían que seleccionar primero las matemáticas más bellas, no necesariamente conectadas a los fundamentos existentes de la física teórica, y luego interpretarlas en términos físicos”.

– ¿Y puedes ver belleza en las leyes y principios de la naturaleza? – pregunté.

– Oh, absolutamente – declaró -. Son bellas, y también son elegantes en su simplicidad. De forma muy sorprendente. Cuando los científicos tratan de construir una nueva ley de la naturaleza, de manera rutinaria buscan la ley más simple que explique adecuadamente los datos.

Interrumpí con una objeción.

– ¿No está la belleza en el observador? – pregunté -. Qué es y qué no es bello parece algo muy subjetivo.

– La subjetividad no puede explicar el éxito del criterio de la belleza en la ciencia – respondió -. No esperaríamos que patrones puramente subjetivos sirvieran como base de las teorías que hacen predicciones precisas, tales como el éxito de la electrodinámica cuántica para predecir la corrección cuántica para factor g del electrón. Además, no toda belleza es subjetiva; también existen aspectos objetivos, el menos en el sentido clásico. En su libro The Analysis of Beauty [El análisis d la belleza], escrito a mediados del siglo dieciocho, William Hogarth dijo que la característica que define la belleza o a elegancia es la “simplicidad con variedad”. Y eso es lo que los científicos han hallado, un mundo en donde la simplicidad fundamental le abre paso a la enorme complejidad que es necesaria para la vida.

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Equação da superfície mínima

Me aventuré con otra alternativa.

– Tal vez el concepto de belleza es meramente el producto de la evolución – dije -. Quizá tiene un valor de supervivencia, y por eso nuestro sentido de lo que es bello ha sido formado por selección natural.

– Eso solo aplicaría a cosas que podemos ver, tocar o escuchar; las cosas que en nuestro mundo cotidiano son necesarias para la supervivencia. Sin embargo, la evolución no puede explicar la belleza que existe en el mundo subyacente de las leyes físicas y las matemáticas – dijo -. En la física observamos un misterioso grado de armonía, simetría y proporcionalidad. Y observamos algo a lo que llamo “descubribilidad”. Lo que quiero decir con eso es que las leyes de la naturaleza parecen haber sido cuidadosamente arregladas para que pudieran ser descubiertas por seres con nuestro nivel de inteligencia. Eso no solo encaja en la idea de diseño, sino que también sugiere un propósito providencial par la humanidad: aprender acerca de nuestro hábitat y desarrollar la ciencia y la tecnología. – Collins mencionó que Davies también comentó acerca de la belleza de la naturaleza en su libro Superforce [Superfuerza]. Posteriormente encontré el pasaje:

Una reacción común entre los físicos a los increíbles descubrimientos … es una mezcla de deleite ante la sutileza y elegancia de la naturaleza, y de estupefacción: “Jamás hubiera pensado en hacerlo de esa forma”. Si la naturaleza es tan “inteligente” que puede aprovechar mecanismos que nos asombran con su ingenio, ¿no es acaso una evidencia persuasiva de la existencia de diseño inteligente detrás del universo físico? Si las mejores mentes del mundo pueden desenmarañar solo con dificultad las obras más profundas de la naturaleza, ¿cómo podrá suponerse que esas obras son solamente un accidente mecánico, un producto del azar ciego? … Descubrir las leyes de la física se parece en varias maneras a completar un crucigrama. … En el caso del crucigrama, jamás se nos ocurrirá suponer que las palabras simplemente cayeron en un patrón interrelacionado y consistente por mero accidente.

– Desde un punto de vista ateísta – continuó Collins – no hay razón para esperar que las leyes fundamentales fuesen bellas o elegantes, porque fácilmente pudieron no haberlo sido. Hasta el mismo Weinberg, quien es ateísta, concede que “en ocasiones la naturaleza parece más bella de lo estrictamente necesario”. Sin embargo, el ajuste fino para la simplicidad, belleza y elegancia sí tiene sentido en la hipótesis de Dios. Considera la concepción clásica de Dios: él es el ser más grande posible, y por lo tanto, un ser con sensibilidad estética perfecta. No sería sorprendente en absoluto que Dios quisiera crear un mundo de gran sutileza y belleza en su nivel más fundamental.

Lee Strobel, El caso del Creador

«Se alguém quer vir após Mim, […] tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me.»

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A muitos parece dura esta palavra : «Renega-te a ti próprio, toma a tua cruz e segue Jesus.» […] Porque temes levar a cruz, pela qual se vai ao Reino? Na cruz está a salvação; na cruz, a vida; na cruz, a protecção dos inimigos; na cruz se derrama toda a suavidade do alto; na cruz, a força do espírito; na cruz, a alegria da alma; na cruz, a suprema virtude; na cruz, a perfeição da santidade. Não há salvação da alma nem esperança da vida eterna senão na cruz. Pega, pois, na tua cruz e segue-O: caminharás para a vida eterna. […] Se morreres com Ele, também com Ele viverás (cf Rom 6,8). E, se fores seu companheiro no sofrimento, também o serás na glória.

Eis que tudo consiste na cruz […]; não há outro caminho para a vida e para a verdadeira paz interior. […] Anda por onde quiseres, procura o que desejares, não encontrarás mais elevado caminho no alto, nem mais seguro cá em baixo, do que o caminho da santa cruz.

Dispõe e ordena tudo segundo o que queres e vês; não encontrarás nada onde não haja que sofrer, voluntária ou necessariamente, e assim sempre encontrarás a cruz. Ou sofrerás dores no corpo, ou encontrarás tribulações na alma. Umas vezes serás abandonado por Deus, outras serás afligido pelo próximo e, pior ainda, muitas vezes pesar-te-ás a ti mesmo; e não poderás ser libertado ou aliviado com qualquer remédio ou consolação. […] Deus quer que aprendas a suportar o sofrimento sem consolações, que te submetas a Ele totalmente e te tornes mais humilde pela tribulação. […] E é necessário que tenhas paciência, se queres possuir a paz interior e merecer a coroa imortal.

Imitação de Cristo, tratado espiritual do século XV,
Livro II, capítulo 12

Viagem à Holanda

Pessimista

Na primeira metade dos anos setenta, um amigo de nosso grupo fez uma viagem à Holanda. Ali a Igreja sempre estava dando o que falar, vista por alguns como a imagem e a esperança de uma Igreja melhor para o amanhã e, por outros, como um sintoma de decadência, consequência lógica da atitude assumida. Com certa curiosidade esperávamos o relato que nosso amigo faria em sua volta. Como era um homem leal e observador e preciso, falou-nos de todos os fenômenos da decomposição, dos quais já tínhamos ouvido algo; seminários vazios, ordens religiosas sem vocações, sacerdotes e religiosas que em grupo dão as costas à sua própria vocação, desaparição da confissão, queda dramática na frequência da prática dominical, etc, etc. Obviamente nos descreveu também as experiências e novidades, que não podiam, a bem da verdade, mudar nenhum dos sinais da decadência; aliás, reafirmavam-nos. A verdadeira surpresa do relato feito foi, no entanto, a avaliação final: apesar de tudo, era uma grande Igreja, porque em nenhuma parte se observava o pessimismo. O fenômeno do otimismo geral fazia com que toda a decadência e toda destruição fossem esquecidas; ele bastava para compensar todas as coisas negativas.

Eu fiz minhas reflexões particulares em silêncio. O que dizer de um homem de negócios que sempre faz anotações em vermelho, e eu, ao invés de reconhecer suas perdas, de buscar as razões e se opor com valentia, se apresentasse diante de seus credores somente com o otimismo? O que se deveria pensar da exaltação de um otimismo simplesmente contrário à realidade? Tentei chegar ao fundo da questão e examinei várias hipóteses. O otimismo poderia ser simplesmente um anteparo atrás do qual se escondesse exatamente o desespero, tentando superá-lo dessa forma. Mas poderia ser algo pior, uma vez que esse otimismo metódico era produzido por aqueles que desejavam a destruição da antiga Igreja e, sob o pretexto de forma, queriam construir uma igreja totalmente diferente, ao seu modo, mas não podiam começá-la para que suas intenções não fossem rapidamente descobertas. Assim, o otimismo público era uma espécie de tranquilizante para os fiéis, a fim de criar o clima adequado para desfazer, possivelmente em paz, a própria Igreja, e conquistar assim o domínio sobre ela. O fenômeno do otimismo tinha portanto duas caras: por um lado supunha a felicidade da confiança, ou melhor, a cegueira dos fiéis, que se deixam acalmar com belas palavras; e por outro lado, existiria uma estratégia consciente para uma mudança na Igreja, em que nenhuma outra vontade superior – vontade de Deus – nos incomodasse, perturbando nossas consciências, e nossa própria vontade teria a última palavra. O otimismo seria finalmente a forma de libertar-se da pretensão, já amarga pretensão, do Deus vivo sobre nossas vidas. Esse otimismo do orgulho, da apostasia, tinha se servido do otimismo ingênuo, mais ainda, o havia alimentado, como se este otimismo fosse apenas a esperança certa do cristão, a divina virtude da esperança quando, na realidade, era uma paródia da fé e da esperança. Leia mais deste post

Por que ler Tomás de Aquino hoje?

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Um lançamento da Editora Ecclesiae – a tradução, pela primeira vez no Brasil, da parte das Quaestiones disputatae dedicada ao “poder de Deus” – recoloca uma pergunta que muitos hesitam em fazer: por que ler Tomás de Aquino hoje?

Uma questão pertinente para alguém que, como eu, não é filósofo e, muito menos, leitor assíduo de Aquino. Por que eu deveria perder meu tempo com um padre dominicano que viveu no longínquo século XIII?

Para responder, não recorro à Wikipédia, mas às lembranças que guardo das poucas leituras que fiz, há três décadas no mínimo. O que ficou, para mim, do Aquinate?

A limpidez do raciocínio, sem dúvida. Limpidez que chegou a produzir vertigens no jovem viciado no estudo de marxistas e estruturalistas. Tive de readequar minha mente ao que, percebi com dificuldade, é a argumentação racional per se, isto é, o verdadeiro método para apreender a realidade, analisá-la, estabelecer distinções e elaborar respostas às perguntas fundamentais que se colocam quando me interrogo sobre o sentido da vida. 

Essa sincera busca da verdade, uma sinceridade que se contrapõe ao mundo ideológico, incansável em seu trabalho de tentar nos convencer de que certos temas, quase sempre de ordem metafísica, são cartas definitivamente fora do baralho, foi o que me conquistou.

Lembro-me de uma pequena história contada por meu professor de Filosofia: Tomás de Aquino rezava na capela quando vê um amigo morto, que teria sido autorizado a visitá-lo apenas para se despedir. O anseio do Doutor Angélico pela verdade é tão grande, que ele não se interessa pela emoção da despedida, mas começa a interrogar seu amigo sobre as características da visão beatífica que ele, provavelmente, já alcançara.

Verdade ou não, a história revela um pouco desse homem que, livre e maduro o suficiente para interrogar um morto com naturalidade, ergueu um monumento filosófico cujo objetivo é conciliar fé e razão, imergindo os princípios aristotélicos no inesgotável oceano do cristianismo.

Um homem desse tipo, que dedicou sua vida à tarefa mais honrosa e também mais ingrata – a de buscar a verdade –, abdicando de toda vaidade, de todo orgulho, merece de nós pelo menos algumas horas de leitura.

Fonte: Rodrigo Gurgel

Romance filosófico com Santo Tomás de Aquino

Relação fé-ciência é abordada em novo romance
Debate filosófico de 1270 volta como história atual

Por Antonio Gaspari

ROMA, terça-feira, 3 de julho de 2012 (ZENIT.org) – São Tomás está em Paris e preside a cátedra de teologia. Luís IX se prepara para uma nova cruzada. Tempier, bispo de Paris, está às voltas com questões de doutrina “em odor de heresia”.

Enquanto isso, em Bagdá, doze anos se passaram desde a conquista dos mongóis. A cidade está lentamente se reerguendo. No Cairo, Bayrbas consolida o seu poder, arranca Damasco dos mongóis e se prepara para apoiar o exército cristão.

É neste contexto que se desenrola o romance 1270, escrito por Giuseppe Mazzi e publicado pela If Press (www.if-press.com). Apesar dos muitos detalhes históricos apresentados, o autor afirma que é um romance filosófico, em que o verdadeiro debate é sobre a relação entre a ciência e a fé.

A curiosidade pelo tema e pelo contexto histórico do livro levou ZENIT a entrevistar Giuseppe Mazzi, ex-professor de história e filosofia.

Por que um número, 1270, como título do romance? O que ele significa?
Mazzi: Nenhum significado oculto. Esse número é simplesmente a data dos acontecimentos narrados.

São Tomás, Luís IX, o bispo Tempier de Paris, Al Gazali, Avicena e Averróis… Como é que todos esses personagens entram no romance?
Mazzi: São Tomás, São Boaventura e Tempier estavam vivos e ativos em 1270. Al Gazali, Avicena e Averróis estavam mortos já fazia muito tempo, mas eram Leia mais deste post

Eva

Albrecht Dürer (1471-1528), Adão e Eva (detalhe), Museu do Prado, Madrid

John Milton, Paraíso Perdido, Canto VIII

Foi grande o golpe e em um instante a cura.
Deus coas mãos a costela vai moldando,
Té que uma criatura dela forma
Mui semelhante a mim, mas de outro sexo.
Pareceu-me tão bela e tão amável,
Que tudo quanto dantes no Universo
Julgara belo agora o crê mediano –
Ou que do Mundo as formosuras todas
Em corpo tão gentil se resumiam,
Principalmente nos benignos olhos
Que desde então mimosos infundiram
Dentro em meu coração tanta doçura,
Qual nunca exp’rimentado havia dantes:
Do porte seu também logo exalaram
O espírito de amor, graças, deleites
Que em toda a Natureza se esparziam.
Nisto ela foge e me deixou em Leia mais deste post

Os frutos do Espírito

Fra Angelico, Tomás com a Suma, Museu Nacional de São Marcos, Florença

Após ter falado dos dons, santo Tomás acrescenta ainda duas outras questões, verdadeiramente surpreendentes para quem esperaria apenas uma simples descrição de estruturas mentais, mas que não são feitas para nos surpreender, uma vez que sabemos que ele é um leitor assíduo da Escritura. Plenamente consciente do fato de que “o Sermão da Montanha contém o programa completo da vida cristã” (ST I-II q.108 a.3), ele se interroga sobre o que são as bem-aventuranças das quais o Senhor fala nos evangelhos (Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-26), e sobre o que São Paulo denomina “os frutos do Espírito” (Gl 5, 22-23; ST I-II q.69-70). A aproximação não é arbitrária, porque há mais de um ponto comum entre frutos e bem-aventuranças, e a união com o Espírito Santo é evidente a partir do momento em que se percebe que tudo isso tem suas raízes nele como em sua fonte. Muito pouco lidas, porque se tende a considerá-las secundárias num movimento de conjunto da Suma, as duas questões são, ao contrário, apreciadas pelos melhores teólogos moralistas de hoje. Eles vêem aí de bom grado “um programa de vida e de progresso espiritual” e se inspiram para “traçar um retrato do homem espiritual”.

A lista das bem-aventuranças não tem necessidade de ser aqui lembrada, mas talvez seja útil recordar os doze frutos do Espírito tais como Tomás os encontrava no latim da Vulgata: caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, longanimidade, mansidão, fé, modéstia, continência, castidade (não se encontrará no grego do Novo Testamento a integralidade desta lista, da qual se conhecem apenas nove elementos). Para compreender de que se trata, deve-se saber que, em relação às virtudes e aos dons, as bem-aventuranças e os frutos não representam novas categorias de habitus, mas simplesmente os atos que deles provêm:

A palavra fruto foi transferida das coisas materiais para as espirituais. Na ordem material, chama-se fruto o que a planta produz ao atingir seu pleno desenvolvimento e traz em si certa suavidade. Nesse sentido, o fruto tem dupla relação com a árvore que o produz e com o homem que dela colhe. Assim, pois, podemos entender a palavra fruto nas coisas espirituais de dois modos: primeiro, diz-se fruto do homem, como da árvore, o que é produzido por ele; segundo, diz-se fruto do homem o que o homem colhe.

(ST I-II q.70 a.1)

 

Esta simples apresentação do vocabulário permite um primeiro esclarecimento. Se se pensa naquilo que é produzido pelo homem, é claro que são os atos humanos que levam o nome de frutos. Se eles estão de acordo com a capacidade da razão, são frutos da Leia mais deste post

Tomás e a política: qual a melhor forma de governo?

Andrea di Bonaiuto, Igreja Santa Maria Novella, Firenze

Leia também:
Tomás responde: Qual é a melhor forma de governo?
Tomás responde: Qualquer um pode fazer leis?
Tomás responde: É efeito da lei tornar os homens bons?
Tomás responde: Os atos da lei (ordenar, proibir, permitir e punir) são convenientemente enumerados?

“Dois pontos devem ser considerados acerca da boa organização do governo de uma cidade ou de uma nação. Primeiramente, que todos tenham alguma participação no governo, porque, segundo o livro II da Política, existe aí uma garantia de paz civil, e todos amam e guardam uma tal ordenação.”

“Por isso, a melhor organização para o governo de uma cidade oude um reino é aquela em que à cabeça é posto, em razão de sua virtude, um chefe único tendo autoridade sobre todos. Assim sob sua autoridade se encontra um determinado número de chefes subalternos, qualificados segundo a virtude. E assim o poder definido pertence à multidão, porque todos aí têm, ou a possibilidade de serem eleitos, ou a de serem eleitores. Este é o regime perfeito, bem combinado (politia bene commixta) de monarquia, pela preeminência de um só, de aristocracia, pela multiplicidade de chefes virtuosamente qualificados, de democracia, enfim, ou de poder popular, pelo fato de que cidadãos simples podem ser escolhidos como chefes, e que a escolha dos chefes pertence ao povo.”

A afirmação da autonomia do político em relação ao religioso nada diz ainda da questão sensivelmente diferente da melhor forma de governo que convém a uma sociedade adotar. A bem dizer, Tomás jamais se estendeu muito sobre esse assunto, mas vê-se de imediato que as duas questões não existem sem relações. Não somente porque se trata de uma parte e de outra do bem comum da multidão, mas também porque os dados de base que comandam as opções nos dois casos são finalmente os mesmos. Tanto a exigência do respeito mútuo das diversas competências da Igreja e do Estado, quanto o apelo a uma ética de responsabilidade pessoal no governo da cidade terrestre estão inscritos na Leia mais deste post

Diálogo com Bergson

O filósofo Jean Guitton (1901-1999)

– Guitton, por que você acredita em Cristo?

– Mestre, que poderia eu dizer que você já não saiba e numa luz muito mais alta!

– Responda-me, Guitton. Não é para mim, é para você. A santa frisou bem que seria preciso que você mesmo respondesse. Guitton, por que você acredita em Cristo?

– Porque me é sempre difícil crer nele.

– Explique-me isso.

– Nada mais simples. Sou um homem religioso. Estudei muito Plotino, fiz minha tese sobre ele. Na minha opinião, Plotino é o paradigma do homo naturaliter religiosius [homem naturalmente religioso], e até mesmo do homo naturaliter mysticus [homem naturalmente místico].

– Estou de pleno acordo com você.

– A religião natural é uma ascensão do homem para Deus. Ela propõe uma auto-realização do homem. Deus é uma meta, como o cume da montanha é uma meta para o alpinista.

– Isso não se encontraria também no cristianismo? São João da Cruz não fala disso na Subida ao Monte Carmelo?

– É verdade, Bergson. Apesar de tudo, no cristianismo, Deus se impõe. Não é que ele nos tiranize, mas, de qualquer forma, Ele entra em nossa vida sem nos pedir autorização. Nós gostaríamos de organizar tranquilamente nossa subida em direção ao Céu. Deus toma a liberdade de descer do Céu sobre a Terra.

– É melhor, não?

– De jeito nenhum. Fico muito contrariado pela conduta de Deus. Eu não lhe pediria tanto. Ele fez demais. Ele não fica no seu lugar. Não joga seu jogo.

– Ora, ora, você pensa assim. Minha natureza é diferente.

– Não é sua natureza, Bergson, mas sua cultura. Você é hebreu e impregnado de Deus há quatro mil anos até a medula dos ossos. Você acabou por achar normal que o Absoluto se misture sem cessar em seus negócios. Quanto a mim, sou de velha estirpe pagã e lhe garanto que me é muito difícil aceitar um Deus que não fique em seu lugar.

– E você pode dizer-me por que essa dificuldade em crer é para você um motivo de fé?

– Porque para mim é claro que eu jamais teria inventado uma tal religião. Certamente para você, que tem isso nos genes, por assim dizer, é natural situar-se na intuição e no dinamismo dessa vida religiosa; então, basta-lhe prolongar o movimento para antecipar, de certa maneira, a revelação plenária do Amor divino no Messias. Eu, porém, que não tenho absolutamente nada de judeu, asseguro-lhe que esta religião é completamente Leia mais deste post

O Artista Divino

Albrecht Dürer, Adoração da Santíssima Trindade, 1511

A doutrina da criação (de Santo Tomás) é cheia de implicações doutrinais e espirituais de todas as espécies que se manifestarão pouco a pouco na continuação destas páginas. A primeira que se oferece à meditação é a de Deus artesão e até artista que imprime em sua obra um vestígio de sua beleza. É um lugar-comum do pensamento medieval, que encontrou sua tradução até na pintura – conhece-se a miniatura da escola de Chartres em que o criador, com o compasso na mão, se põe a fazer uma terra perfeitamente esférica. Não se pode dizer que a arte imita a natureza, uma vez que antes da criação não há nada. Era necessário, portanto, que o criador divino se tomasse a si mesmo por modelo. Sendo reconhecido o princípio geral pelo qual o efeito se assemelha à sua causa e, mais precisamente, a obra a seu autor, se é obrigado a concluir que a criação se assemelha ao criador:

Deus é a causa primeira exemplar de todas as coisas. Para se ter clareza disso é preciso considerar que um exemplar é necessário à produção de uma coisa para que o efeito assuma determinada forma. De fato, o artífice produz determinada forma na matéria por causa do exemplar que tem diante de si, seja ele um exemplar que se vê exteriormente, seja um exemplar concebido interiormente pela mente. Ora, é manifesto que as coisas produzidas pela natureza seguem uma forma determinada. Essa determinação das formas deve ser atribuída como a seu primeiro princípio, à sabedoria divina, que pensou a ordem do universo consistente na disposição diferenciada das coisas. Portanto, é preciso dizer que na sabedoria divina estão as razões de todas as coisas, que acima chamamos de “idéias”, isto é, formas exemplares existentes na mente divina. Embora sejam múltiplas conforme se referem às coisas, não se distinguem da essência divina, uma vez que da semelhança com Deus podem participar diversas coisas de modos variados. Assim, Deus é o primeiro exemplar de tudo. (P1,Q44,A3)

Embora seja aproximativa, a comparação do Artista divino com um artesão desta terra em trabalho de criação é por si mesma altamente evocativa. E mais ainda porque não se pensaria nela numa primeira abordagem, porque é a Trindade que está na origem desta obra de arte que é o mundo, e vimos que cada Pessoa aí participa conforme lhe é próprio segundo a ordem das processões. Se é assim, nova conclusão se impõe: encontrar-se-á necessariamente uma Leia mais deste post

Consertando o mundo com Chesterton

Entrevista com o padre Ian Boyd, especialista no escritor católico

MECOSTA, segunda-feira, 20 de setembro de 2010 (ZENIT.org) – Este ano celebra-se o centenário da publicação de uma coletânea de ensaios do popular escritor G. K. Chesterton, intitulada “O que está mal no mundo” (baixar o livro, em espanhol, .doc ou .pdf, na página de downloads).

O presidente do Instituto Chesterton pela Fé e a Cultura, da Universidade Seton Hall, em Nova Jersey, padre Ian Boyd, falou com ZENIT sobre as advertências de Chesterton e o caráter profético de sua obra.

ZENIT: Que faz o Instituto Chesterton?

Padre Boyd: O instituto foi fundado durante o centenário do nascimento de Chesterton, em 1974, para responder a uma sugestão de T. S. Eliot na ocasião da morte de Chesterton, que disse que nós deveríamos continuar fazendo hoje o que Chesterton iniciou. A ideia básica do instituto é, através das publicações e conferências, continuar hoje o trabalho comunitário de Chesterton.

ZENIT: A cem anos da publicação do livro referido de Chesterton, o texto ainda contém elementos que se podem aplicar hoje?

Padre Boyd: Em todos os escritos de Chesterton há um caráter profético. Ele foi uma importante figura de seu tempo, especialmente na época anterior à Primeira Guerra Mundial. Converteu-se em um autor clássico de seu tempo.

Chesterton viu que seus contemporâneos eram como ovelhas sem pastor, enganadas por falsos pastores. Penso que Chesterton viu sua missão como realmente apostólica, porque muitos não se dão conta do tesouro que têm em sua fé cristã.

A obra “O que está mal no mundo” tem algo a dizer ao mundo de hoje por um motivo: contém uma teologia social. Chesterton e seus amigos anglicanos, muito antes de que se tornasse católico, estavam preocupados em Leia mais deste post

Breve História da Humanidade

Fra Angelico e Filippo Lippo, Adoração dos Magos, Galeria Nacional de Arte, Washington, DC.

Por G. K. Chesterton

Na terra iluminada por aquela estrela vizinha, cujo esplendor é a ampla luz do dia, existem muitas coisas muito variadas, imóveis e móveis. Move-se entre elas uma raça que em sua relação com as outras é uma raça de deuses. Essa realidade não é diminuída mas sim realçada pelo fato de essa raça poder comportar-se como uma raça de demônios. A superioridade dela não é uma ilusão individual, como um pássaro que se veste com sua própria plumagem; é algo muito sólido e multifacetado. Isso fica demonstrado nas próprias especulações que levaram à sua negação. Que os homens, os deuses deste mundo inferior, estão ligados a ela de várias maneiras, é verdade; mas esse é outro aspecto da mesma verdade. Que eles crescem como cresce a relva e caminham como caminham os animais, é uma necessidade secundária que acentua a superioridade primária. É como dizer que um mágico deve no fim das contas ter a aparência de um homem; ou que até mesmo as fadas não poderiam dançar se não tivessem pés. Recentemente tem sido moda focar a inteligência inteiramente nessas semelhanças ligeiras e subordinadas e esquecer completamente o fato principal. Existe o costume de insistir que o homem se parece com as outras criaturas. Certo, e exatamente essa semelhança só ele pode ver. O peixe não descobre o modelo da espinha de peixe nas aves do céu, nem o elefante e o meu comparam esqueletos. Mesmo no sentido de que o homem está em harmonia com o universo, trata-se de uma universalidade absolutamente solitária. O próprio sentido de que está unido a todas as coisas é suficiente para separá-lo de todas.

Olhando a seu redor sob essa luz única, tão solitário como a chama que literalmente só ele acendeu, esse semideus ou demônio do mundo visível torna esse mundo visível. Ele vê ao seu redor um mundo de certo estilo ou tipo, que parece proceder seguindo certas normas ou pelo menos repetições. Ele observa a arquitetura verde que se constrói a si mesma sem mãos visíveis, mas se ergue formando um plano ou padrão muito exato, semelhante a um desenho já traçado no ar por um dedo invisível. Não se trata, como agora vagamente se sugere, de alguma coisa vaga. Não é um crescer ou um tatear de vida às cegas. Cada coisa procura um fim, um fim glorioso e radiante, até mesmo no caso de cada margarida ou dente-de-leão que vemos observando a superfície de um campo qualquer. Na própria forma das coisas existe algo mais que um crescimento verde: existe a finalidade da flor. É um mundo de corolas. Essa impressão, ilusória ou não, tem influenciado tão profundamente a raça de pensadores e mestres do mundo material que sua vasta maioria foi levada a assumir certa visão desse mundo. Eles concluíram, errando ou acertando, que o mundo tinha um plano, assim como Leia mais deste post

O princípio de não-contradição

Antonio Ciseri (1821-1891), Ecce Homo

“Tu o dizes: eu sou rei. Para isso nasci e para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta a minha voz”.

Disse-lhe Pilatos: “Que é a verdade?”

“…esta função concreta, esta valência de concretude desenvolvida pelo princípio de não-contradição em relação ao princípio de identidade, é a função que o mesmo princípio desenvolve em relação a todos os outros princípios: estes são abstratos, isto é, não plena e completamente verdadeiros, até que sejam reconduzidos e reduzidos ao princípio de não-contradição. Por isso este se revela como o princípio absoluto do ser.”

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1. “Princípios que são o próprio ser

A formulação “princípios do ser” deve-se entender no sentido do genitivo subjetivo: não princípios que dominam o ser, mas princípios que o próprio ser é, que promulga ou explicita em si e por si mesmo. E também aqui o plural, como o dos transcendentais, entende-se no sentido da perfeita convertibilidade e, portanto, em sentido unitário. Os princípios dizem o ser; o ser se exprime nos princípios, os quais são enumerados como princípio de identidade, princípio de não-contradição, princípio de razão suficiente, princípio do terceiro excluído, princípio da impossibilidade do progresso ou do regresso ao infinito. Na realidade, eles se unificam no princípio de não-contradição, como aquele no qual se resolvem e do qual são explicitações ulteriores. Deve-se, portanto, dizer que o ser é o princípio de não-contradição, e reciprocamente; os outros princípios explicitam o ser enquanto explicitam o princípio de não contradição e são perfeitamente convertíveis com ele.

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1.1 O significado de princípio

Com a finalidade de uma correta compreensão dos princípios do ser é indispensável clarificar o significado de princípio. Partamos da definição que lhe dá Aristóteles: Leia mais deste post

Dante encontra Tomás: dia de festa no Paraíso

Philipp Veit, O Céu do Sol, com Dante e Beatriz, Tomás de Aquino, Alberto Magno, Pedro Lombardo e outros, 1817-1827, Casa Massimo, Roma (clique para ampliar)

“Um anho fui da santa grei que chama
De Domingos a voz pelo caminho,
Onde prospera só quem mal não trama.

“Tomás de Aquino sou; me está vizinho,
À destra de Colônia o grande Alberto
A quem de aluno e irmão devo o carinho.

[O primeiro espírito à direita é o de Alberto Magno, de Colônia, que foi o primeiro mestre de Santo Tomás de Aquino]

“Se dos mais todos ser desejas certo,
Na santa c’roa atenta cuidadoso,
A tua vista a voz siga-me perto.

“Nesse esplendor sorri-se jubiloso
Graciano que num e noutro foro
Di’no se fez de ser no céu ditoso.

[Francisco Graciano, monge italiano do século XII, que estudou a relação entre as duas leis, a civil e a canônica]

“Aquele outro ornamento deste coro Leia mais deste post

Dante e a Divina Comédia

Dante, de Domenico di Michelino (1417-1491), igreja de Santa Maria del Fiore, Florença (clique para ampliar)

Depois de ler, baixe A Divina Comédia na página de download.

Por Otto Maria Carpeaux

Epopéias são leitura difícil. O gênero morreu há muito, deixando inúmeras falhas e uns poucos monumentos grandiosos que representam épocas passadas da humanidade; por isso, é indispensável conhecer Homero e Virgílio, Ariosto e Spencer, Camões, Tasso e Milton. Mas é mais fácil admirá-los do que gostar deles. Se desaparecessem todas as imposições da escola e da convenção de uma “cultura geral”, teríamos de confessar que as grandes epopéias são hoje pouco legíveis. É preciso estudá-las; teremos de admirar inúmeros pormenores geniais e o plano grandioso; mas é impossível lê-las assim como se lê uma obra de literatura viva. Dante é a única exceção.

É possível ler a Divina Comédia assim como se fosse uma obra de hoje, apesar das mil dificuldades criadas pelas alusões eruditas e políticas. É uma obra viva, capaz de despertar paixão e entusiasmo; porque não é uma epopéia. Entre as grandes obras da literatura universal às quais a convenção chama “epopéia”, a Divina Comédia é a única que não tem Leia mais deste post

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