Por que ler Tomás de Aquino hoje?
31 janeiro, 2014 1 Comentário
Um lançamento da Editora Ecclesiae – a tradução, pela primeira vez no Brasil, da parte das Quaestiones disputatae dedicada ao “poder de Deus” – recoloca uma pergunta que muitos hesitam em fazer: por que ler Tomás de Aquino hoje?
Uma questão pertinente para alguém que, como eu, não é filósofo e, muito menos, leitor assíduo de Aquino. Por que eu deveria perder meu tempo com um padre dominicano que viveu no longínquo século XIII?
Para responder, não recorro à Wikipédia, mas às lembranças que guardo das poucas leituras que fiz, há três décadas no mínimo. O que ficou, para mim, do Aquinate?
A limpidez do raciocínio, sem dúvida. Limpidez que chegou a produzir vertigens no jovem viciado no estudo de marxistas e estruturalistas. Tive de readequar minha mente ao que, percebi com dificuldade, é a argumentação racional per se, isto é, o verdadeiro método para apreender a realidade, analisá-la, estabelecer distinções e elaborar respostas às perguntas fundamentais que se colocam quando me interrogo sobre o sentido da vida.
Essa sincera busca da verdade, uma sinceridade que se contrapõe ao mundo ideológico, incansável em seu trabalho de tentar nos convencer de que certos temas, quase sempre de ordem metafísica, são cartas definitivamente fora do baralho, foi o que me conquistou.
Lembro-me de uma pequena história contada por meu professor de Filosofia: Tomás de Aquino rezava na capela quando vê um amigo morto, que teria sido autorizado a visitá-lo apenas para se despedir. O anseio do Doutor Angélico pela verdade é tão grande, que ele não se interessa pela emoção da despedida, mas começa a interrogar seu amigo sobre as características da visão beatífica que ele, provavelmente, já alcançara.
Verdade ou não, a história revela um pouco desse homem que, livre e maduro o suficiente para interrogar um morto com naturalidade, ergueu um monumento filosófico cujo objetivo é conciliar fé e razão, imergindo os princípios aristotélicos no inesgotável oceano do cristianismo.
Um homem desse tipo, que dedicou sua vida à tarefa mais honrosa e também mais ingrata – a de buscar a verdade –, abdicando de toda vaidade, de todo orgulho, merece de nós pelo menos algumas horas de leitura.
Fonte: Rodrigo Gurgel
Republicou isso em Adalberto de Queiroze comentado:
Tomás, o boi mudo continua encantando.